OPINIÃO: Temos mesmo de agradecer ao MTur por receber a Abav e a Clia?
Política associativa precisa olhar parceiros políticos ombro a ombro e não de baixo para cima
"Esse artigo, claro, deveria ter vindo primeiro (em relação a esse aqui), mas o impacto do primeiro dia da Abav Expo, a reação das pessoas a Magda Nassar e o que vi de dados e provas da força do agente de viagens me levaram a escrever primeiramente sobre esse momento único da Abav e do setor.
Mas, como sabemos, gostemos ou não, a política é parte fundamental do negócio. Para que o Turismo cresça com apoio institucional dos órgãos da nação e sem uma visão distorcida (de autoridades) que possa atrapalhar essa indústria, o Turismo precisa estar junto dos políticos, sentando com eles, debatendo, criando, ditando os rumos que queremos para nossos negócios.
Já não cabe mais a triste frase que usamos por muito tempo para os políticos: “se não atrapalhar já está bom”. Não mais. Se tem um Ministério do Turismo, uma Secretaria de Turismo ou uma Agência de Promoção do Turismo, por favor, façam valer o título de suas pastas. E trabalhem a favor do... Turismo.
A troca de ministros no MTur a cada curto período não ajuda, obviamente, e, sim, fomos surpreendidos pelo presidente Lula, criador do Ministério do Turismo, em 2003, não apenas por uma troca em tempo recorde, mas também pela falta de cuidado de tratar o setor como mais estratégico que moeda política. Ao novo ministro, Celso Sabino, cabe o benefício da dúvida e ainda não dá para avaliar sua gestão (mas já vemos como positiva a volta de nomes como Milton Zuanazzi, por exemplo, que já prepara novo Salão do Turismo). Já Marcelo Freixo, com seu time técnico na Embratur e ótimas ideias, já pode e deve ser elogiado - falta orçamento, porém.
Mas já estou, como diria a presidente Dilma, tergiversando.
Queria falar sobre os discursos da Cerimônia de Abertura da Abav Expo, onde o tom foi o de agradecer aos órgãos do governo, como os ministério do Turismo e Portos e Aeroportos (mais um com troca em tempo recorde) e a Embratur, por receberem as entidades de... Turismo (oi?) tão bem.
Cada um sabe a sua dor e eu sei o quanto é complexo, difícil, desgastante estar em Brasília fazendo lobby (palavra de que a Abear não gosta, aliás, mas fazer lobby não é pagar propina e sim defender o seu setor, os seus associados), convencendo autoridades sobre a importância de uma indústria inteira.
Um parlamentar deve receber inúmeros pedidos de audiência, reuniões, ajuda, dos mais diversos setores, e realmente sua sensibilização pelo Turismo deve ser aplaudida, agradecida... E Oxalá o Turismo o ajude a se reeleger, mas mesmo que não ajude, que ele saiba que o Turismo está sustentando todo um contingente de famílias, trabalhadores, empresas...
Então ter o Turismo, ainda pouco reconhecido, nessa agenda parlamentar é realmente um desafio. E agradecer aos nobres e ocupados deputados e senadores faz parte do protocolo.
Mas foi chocante ver o discurso do presidente da Clia Brasil, Marco Ferraz, que usou seus três minutos para agradecer aos ministérios citados por recebê-los bem.
Se o MTur e a Embratur não receberem bem a Abav, a Clia, a Braztoa, a Abracorp, Abeoc, Abrape, e tantas outras do setor, quem eles vão receber? Zezé di Camargo e Luciano novamente?
Durante a Abav ouvi uma frase que resume bem o momento do País (ao menos para uma parte da população): antes tínhamos um quadro trágico, hoje temos problemas. E problemas se resolvem sentando para conversar, debatendo, ouvindo um ao outro.
O governo, via MTur, Embratur ou Portos e Aeroportos, faz zero favor ao Turismo ou à Aviação ao lançar programas para esses setores, ao ajudar nos trâmites do Congresso, a editar MPs que consertem visões erradas sobre nosso negócio, ao receber Magda Nassar, Marco Ferraz e outras lideranças do setor.
Quando encontramos um ministro mais dinâmico e interessado, a gente agradece, pois já pegamos muita pedreira no caminho. Mas isso não cabe mais. Só estar de portas abertas não basta.
Queremos parabenizar os ministros, secretários e autoridades por suas ações práticas, por suas assinaturas em medidas de impacto positivo, por sua inteligência, por sua visão estratégica do setor. Não por sua disponibilidade, não por atender em seus gabinetes os representantes do Turismo.
Novamente, sei o quão difícil tem sido a jornada política do Turismo em Brasília, tendo de se adaptar ao perfil de cada ministro, por exemplo. Sei que há medo em melindrar e fazer críticas mais pontuais... Mas se formos contrários a uma ação do MTur ou da Embratur, a retaliação será não receber mais nossos líderes em seus gabinetes? Aliás, cabem retaliações por não concordar com o governo? Novamente, problemas se resolvem com diálogo.
O governo atual, me parece, sabe ouvir e dialogar. Por mais que alguns ministros sejam parte da “composição política de governo”. A força do Turismo precisa ser maior que o medo de desagradar. Fazer política não é mais dar tapinha nas costas, elogiar, agradecer por ser recebido. É construir parcerias, corrigir rumos juntos, fazer pontes público-privadas.
Escrever isso é fácil e a realidade é outra?
Com certeza.
Estou confortável aqui no quarto de hotel enquanto Marco Ferraz pode estar há quatro horas esperando para ser atendido em um gabinete.
Posso estar em casa ou em uma viagem e ele lá em Brasília repetindo o mesmo discurso há 20 anos sobre a importância do Turismo (aliás, os discursos políticos sobre Turismo merecem um capítulo à parte, em outro momento – mudam as pessoas, e o conteúdo se mantém, há décadas).
Até mesmo o melhor discurso da manhã, o de Magda Nassar, abriu um bom tempo para agradecimentos oficiais, e a educação manda que a anfitriã realmente seja grata e reconheça as parcerias. Mas já vi discursos mais contundentes de nossa líder.
Ano que vem a Abav Expo vai para Brasília. E espera-se uma plateia repleta de políticos na abertura. Em vez de agradecer um por um (e aí se seguir nessa linha, Ferraz vai precisar de mais de três minutos), é ótimo momento de expor a força do Turismo uma vez mais. De forma inquestionável e definitiva.
Os políticos da ocasião com certeza falarão do potencial do Turismo, de como ele gera renda e emprego... Nós precisamos escancarar isso na frente deles. Elogiar quem mereça, agradecer as ajudas estratégicas, promover os bons projetos... mas sem olhar de baixo para cima. E sim lado a lado. E com os números em outdoors, com as reivindicações em cartazes, com os pedidos na ponta da língua. Depois a gente pensa se agradece de fato.
É onde queremos estar. Respondendo a uma pergunta de Magda Nassar em seu discurso. Com responsabilidade, reconhecimento, ousadia, e o mesmo trabalho que fazemos há décadas, independentemente de quem está no governo. Mas, repetimos, se tem MTur, Embratur e Setur que sejam para somar. Não atrapalhar não basta mais.
Queremos ser estratégia. Entrar de uma vez na visão de governo.
E não ficarmos à espera na porta do gabinete, pensando: E agora?
O Turismo não pode mais esperar. Não pode mesmo.
Artur Luiz Andrade, editor-chefe e CCO da PANROTAS"