As conquistas e desafios de Pirenópolis, na voz da secretária de Turismo
Secretária fala sobre desenvolver Turismo sem comprometer história e natureza
Com o difícil desafio de equilibrar o crescente desenvolvimento turístico preservando o patrimônio natural e histórico de Pirenópolis (GO), a secretária de Turismo da cidade, Vanessa Leal, deixou Goiânia em 2021, no auge da pandemia, para assumir a pasta. Apesar da mudança de endereço, Pirenópolis não era um destino novo na trajetória profissional da secretária, que trabalhou na coordenação do primeiro Plano Municipal de Turismo da cidade, em 2010.
LEIA TAMBÉM: Pirenópolis e os sabores do cerrado; conheça esse charme brasileiro
Como titular da Secretaria de Turismo, Vanessa comemora o recorde de mais de um milhão de visitantes que Pirenópolis recebeu no ano passado, mas sabe que dificilmente esse número será alcançado tão cedo. Em entrevista exclusiva ao Portal PANROTAS, Vanessa Leal fala sobre o desenvolvimento do Turismo na cidade, apresenta números e destaca os novos produtos turísticos de Pirenópolis.
Portal PANROTAS – A senhora assumiu a Secretaria de Turismo no meio da pandemia. Como o Turismo da cidade enfrentou esse período e quais foram as primeiras ações da secretaria sob sua gestão?
VANESSA LEAL – Pirenópolis ficou completamente fechada para o Turismo em 2020 e, quando assumi, passamos a lidar com a reabertura, ainda de forma gradual, em 2021. Naquele momento, as primeiras ações foram de organização do setor, de identificação de emergências e busca por soluções. Foi um período difícil, que represou a demanda e acabou nos levando a ter o recorde de mais de um milhão de visitantes no ano passado. Estamos falando de uma cidade de 25 mil habitantes, mas que tem no Turismo sua principal atividade econômica. Estamos a duas horas de Goiânia e Brasília, com um mercado de nove milhões de visitantes no entorno, contando também Anápolis. No ano passado, Pirenópolis se beneficiou muito da procura por destinos de natureza, ao ar livre, e com infraestrutura para o “anywhere office” e para o bleisure, as viagens a trabalho combinadas com o lazer.
PANROTAS – Qual a participação do Turismo na atividade econômica da cidade, percentualmente?
VANESSA LEAL – Os dados da Secretaria de Governo dizem que 70% da economia da cidade está ligada ao Turismo, mas acredito que esse número possa chegar a 80%. E digo isso por conta da experiência que vivemos na pandemia. Hotéis, restaurantes, agências... Essas empresas nos procuraram em busca de ajuda, na organização da recuperação do setor em 2021. Mas também fui procurada, aqui na Secretaria de Turismo, por associações de supermercados e gráficas. Esses dois segmentos se organizaram para mostrar o quanto estavam sendo prejudicados pela paralisação do Turismo, porque são fornecedores diretos de pousadas, restaurantes... Acredito que possamos falar, com tranquilidade, que 80% da economia de Pirenópolis gira em torno do Turismo.
PANROTAS – A cidade estava preparada para esse boom de visitantes do ano passado? Qual é a oferta atual de leitos?
VANESSA LEAL – Temos quase oito mil leitos na hotelaria convencional, considerando os hotéis e as pousadas. Mas esse número dobra quando consideramos as casas de temporada. Temos ainda quase duas mil opções de hospedagem no Airbnb, por exemplo. Além dessa oferta, temos também cinco agências de receptivo, mas acredito que exista campo para ampliar essa oferta, especialmente de guias de Turismo. Um dos problemas que o excesso de visitantes tem acarretado é no trânsito de Pirenópolis. Somos uma cidade sem semáforos, porque o trânsito flui naturalmente. Mas, nos dias de grande visitação, como feriados e réveillon, precisamos trabalhar outro modelo de organização, com o fechamento das ruas do centro histórico para veículos. Esse é um trabalho complexo, porque envolve a cultura do cidadão pirenopolino, então trabalhos muito na comunicação, também.
PANROTAS – Além do aumento de visitantes no ano passado, houve alguma mudança no perfil deles? Quais são os principais destinos emissores para Pirenópolis?
VANESSA LEAL – A proximidade com Brasília e Goiânia fazem com que os turistas regionais sejam, destacadamente, os que mais nos visitam. Cerca de 64% dos nossos visitantes são regionais. Entre eles, houve uma ampliação no período de permanência na cidade, no ano passado, e temos notado uma estabilidade nisso neste ano. O visitante regional costumava passar o fim de semana em Pirenópolis, o que nos deixava com um grande problema de ocupação nos demais dias da semana. Com as possibilidades de trabalho remoto e o bleisure, observamos um aumento na permanência deles. Depois do turista regional, temos os visitantes de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais respondendo pela maioria das emissões e, neste ano, já observamos um crescimento entre os turistas estrangeiros. Entre esses, os visitantes da Argentina e dos Estados Unidos são os mais representativos, segundo nossas pesquisas.
PANROTAS – Quais os principais desafios para o desenvolvimento do Turismo de Pirenópolis hoje?
VANESSA LEAL – Quando assumi a Secretaria, quis combater uma mística que existia entre nossos visitantes de que “a cidade está cheia”. A maioria das nossas pousadas são de pequeno e médio porte, com poucos apartamentos. O visitante ligava em uma, duas, três e, ao ouvir que elas não tinham mais disponibilidade para o fim de semana, por exemplo, já concluía que a cidade estava lotada. Para enfrentar isso, temos essa informação, semanalmente, aqui no Centro de Atendimento ao Turista. Fazemos semanalmente o levantamento da oferta, com os meios de hospedagem cadastrados, e assim direcionamos os visitantes que nos procuram para aquelas pousadas que ainda têm disponibilidade. Isso funciona muito bem pelo WhatsApp do CAT, no (62) 3233.6233, número que divulgamos em todas as nossas comunicações.
Agora temos que lidar com o crescimento do Turismo de modo sustentável, sem prejuízos à cultura, história e natureza de Pirenópolis. Somos um destino com mais de 80 cachoeiras, vimos nossa oferta gastronômica crescer muito no ano passado, tivemos a abertura de franquias de Goiás chegando aqui... Precisamos encontrar o equilíbrio e ordenar esse desenvolvimento em consonância com os objetivos da cidade. Estamos atentos ao desenvolvimento da hotelaria e já temos um empreendimento de multipropriedade operando, o Quintas de Santa Bárbara, e já temos outros em construção.
PANROTAS – As novas opções de hospedagem e de serviços vêm acompanhadas de novos produtos?
VANESSA LEAL – Lançamos no ano passado a Rota dos Pireneus – Queijos & Vinhos de Goiás, mostrando que Pirenópolis tem muito mais que sua preservada história e natureza para oferecer. Criamos a Rota do Cicloturismo e a Rota da Prata, que tem a Identificação Geográfica de Procedência das joias de prata produzidas aqui. A prata vem de fora, mas a técnica artesanal utilizada em Pirenópolis é única e a cidade é considerada a “Capital da Prata”. A IG que temos certifica que as joias são totalmente feitas à mão por artesão joalheiro de Pirenópolis, em prata de lei, com o teor e a pureza reconhecidos pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial por sua qualidade e originalidade. Também temos a Piretur, associação de artesãos da cidade, que reúne no mesmo endereço os artesanatos tradicionais, como as namoradeiras goianas, as bonecas de porungo e artes em capim dourado e rendas, por exemplo.
Agora estamos formatando um produto de Turismo de Base Comunitária no povoado de Vila da Capela e do Rio do Peixe, que marcam as origens da dupla Zezé de Camargo e Luciano. A ideia é formatar em um produto de vilas turísticas. Mas esse é um projeto ainda em andamento.
Maria Izabel Reigada, especial para o Portal PANROTAS