Retomada é sentida, mas trade precisa de planejamento e cautela
Soltura da demanda reprimida não fará as tarifas de viagens caírem, alerta Guilherme Dietze, da Fecomercio
A vacinação avança no Brasil, casos e óbitos por covid-19 diminuem e algumas fronteiras reabrem, o que torna a retomada mais palpável. Dados da Braztoa mostram que o segundo semestre deste ano é o período mais aquecido de embarques desde que a pandemia foi decretada. Para 2022, esta realidade também é presente, e com tendência de alta.
Sim, há motivos para acreditar que o pior já passou, mas há ainda mais razões para o profissional de Turismo ser cauteloso em relação à velocidade e a consistência da retomada. Isso porque os preços vão aumentar. A soltura da demanda reprimida não fará as tarifas de viagens caírem. "Muito pelo contrário. Tudo vai subir", alerta o consultor econômico da FecomercioSP Guilherme Dietze.
"A inflação está alta e vai aumentar, o que impacta diretamente o orçamento das famílias, cada vez mais endividadas. Viagens, por ser um item supérfluo, podem ficar um pouco mais distante, com programação mais consistente e com compras de tíquete médio mais baixos, como em roteiros de duração menor e a destinos próximos", justifica o especialista.
Dietze participou hoje da apresentação do primeiro Boletim Mensal Braztoa, no qual foi apresentado o balanço do primeiro semestre de 2021 das operadoras. "Começamos a ver alguns movimentos de alta para o segundo semestre. Companhias aéreas falando em 90% do nível pré-pandemia, hotelaria reaquecendo, mas é preciso destacar a inflação. Portanto, empresário do Turismo, fique atento pois os custos irão aumentar. Hotéis e bilhetes aéreos subirão. Preparem uma forma eficiente de aliviar esse consumo, negociem com seus fornecedores, tentem formas de tornar a venda mais eficiente. A inflação vai pegar no bolso do consumidor e do empresário", ressalta o economista.
VIAJANTE DE LUXO VS. CLASSE MÉDIA
O consultor econômico tranquiliza o profissional de Turismo que trabalha com consumidores de maior poder aquisitivo. Para ele, a demanda reprimida do luxo e das próprias viagens internacionais se soltará sem tantas complicações. "No entanto, o grosso, a classe média, está sendo afetada. A antecedência de compra para esse público pode aumentar e a demanda será certamente por produtos mais baratos".
Guilherme Dietze ainda alerta que a inflação não aumentará apenas no Brasil. "No Exterior também. Nos Estados Unidos a inflação está alta, e lá o governo aumentará os juros. Como consequência, nossa moeda se desvaloriza em relação ao dólar e o Brasil terá de aumentar seu juros também, o que encarecerá o empréstimo das empresas. Em resumo, na ponta os preços subirão em todas as frentes: alimentação, energia, transporte... Viagens podem acabar sendo o último item de escolha das famílias."
O presidente da Braztoa, Roberto Nedelciu, concorda e ressalta que "vimos ministro dizendo que dólar a R$ 5 era bom para o Turismo receptivo no Brasil, mas vale lembrar que praticamente tudo é atrelado ao dólar, como combustível. Não adianta o País estar favorável aos estrangeiros se nosso preço sobe tanto para brasileiros quanto para os próprios estrangeiros. Isso sem contar que 94% da receita do Turismo nacional é movimentada pelo próprio consumidor brasileiro", conclui.
BOM REPORT
Guilherme Dietze é o economista responsável pelos dados macro do Brasil e sua análise no Brazilian Overview Monthly Report (BOM Report), distribuído mensalmente em português e inglês, em uma parceria da PANROTAS com a FecomercioSP. Para receber o relatório mensal da PANROTAS e FecomercioSP clique aqui.