Economia deve retomar nível pré-crise no 1º trimestre de 2021
Apesar do crescimento de 7,7%, o PIB ainda se encontra 2,7% abaixo do primeiro trimestre de 2020
Divulgado hoje (3) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o crescimento de 7,7% do PIB no terceiro trimestre de 2020 (comparado aos três meses anteriores) está abaixo da projeção da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), de 9%. Ainda assim, esse avanço viabilizou a saída do País do chamado quadro de recessão técnica e foi o maior crescimento já registrado pela recente versão da metodologia das Contas Nacionais.
"Mesmo crescendo abaixo do esperado, o resultado do PIB mostra que já iniciamos o caminho de retomada do crescimento da economia, após a crise sem precedentes do segundo trimestre. No entanto, essa reação exigirá muito esforço do governo e do setor privado, já que os efeitos da pandemia sobre a atividade econômica ainda deverão se fazer sentir nos próximos meses", avalia o presidente da CNC, José Roberto Tadros.
A partir dos resultados do terceiro trimestre, a expectativa da CNC é de uma nova alta no quatro trimestre do ano (+1,8% em relação ao terceiro), ou seja, em patamar inferior à expansão divulgada pelo IBGE. Nas projeções da entidade, em 2020 a economia deve encolher cerca de 4,3%, com o consumo das famílias e o comércio cedendo 4,5% e 5,2%, respectivamente. Para 2021, diante da perspectiva da aplicação de vacinas contra a covid-19 e a menor taxa básica de juros da história, a CNC projeta avanço de 3,4%.
"Essa desaceleração se deve a dois fatores. Primeiramente, com o avanço de 7,7% do PIB, a base de comparação será maior – o que certamente impedirá o registro de um novo avanço tão significativo. Além disso, o valor do auxílio emergencial – tão importante para a retomada do crescimento – tem sido menor nos três últimos meses do ano. Neste cenário, a volta do PIB ao nível pré-pandemia deverá ocorrer no primeiro trimestre do próximo ano", explicou o economista da CNC Fabio Bentes.
TERCEIRO TRIMESTRE
No terceiro trimestre deste ano, a alta computada pelo IBGE foi insuficiente para compensar a retração recorde verificada no segundo semestre (-9,6%). Com o avanço no trimestre, a economia ainda se encontra 2,6% abaixo do nível de atividade verificada no período pré-pandemia. Nos últimos quatro trimestres encerrados em março, o PIB brasileiro totalizou R$ 7,37 trilhões.Em relação à produção, a indústria (+14,8%) foi o setor que melhor reagiu no trimestre, especilmente por conta do crescimento de 23,7% da indústria de transformação. O setor de serviços também acusou avanço recorde (+6,3%), influenciado pelos desempenhos das atividades de transporte (+12,5%) e pelo comércio (+15,9%). Das 12 atividades pesquisadas, apenas a agropecuária (-0,5%) não avançou. Entrantanto, no acumulado do ano, esse é o único grande setor a registrar avanço (+2,4%). Quanto à demanda, após caírem 16,5% no segundo trimestre, os investimentos reagiram (+11%), bem como as despesas de consumo das famílias (+7,6% contra -11,3% na fase mais aguda da pandemia). Assim, a relação FBCF/PIB alcançou 16,2% - o maior patamar em um ano, mas muito aquém dos 20% observados antes da recessão de 2015-2016.
Indicadores referentes ao segundo trimestre já apontavam uma reação significativa do nível de atividade econômica a partir de julho. De acordo com as estatísticas da Secretaria do Trabalho, entre julho e setembro deste ano, o saldo entre admissões e demissões no mercado de trabalho formal foi positivo em 694 mil postos de trabalho, revertendo parcialmente o saldo negativo do segundo trimestre (-1,2 milhão de vagas formais). O aumento da taxa de desocupação medida pela PNAD contínua reflete a retomada da procura por emprego diante do processo de reabertura da economia.
Na comparação com o mesmo trimestre do ano anterior, houve queda de 3,9% - a terceira consecutiva. Antes da divulgação dos resultados do IBGE, a CNC projetava recuo de 3,5%. Apenas cinco dos 12 setores pesquisados acusaram avanços no período, com destaque para atividades financeiras (+6%); serviços de utilidade pública, como fornecimento de água, serviço de esgoto, gás e energia elétrica (+3,8%); e atividades imobiliárias (+2,7%). Referente aos gastos, os cinco agregados recuaram, destacando-se os investimentos (-7,8%) e o consumo das famílias (-6%).