Entrevista: Fred Dixon, novo líder da Brand USA, revela alguns dos planos
E faz balanço dos projetos e pontes que construiu como líder da New York City Tourism + Conventions
O Turismo americano vive um momento de grande desafio, ainda recuperando os visitantes internacionais perdidos com a pandemia. A previsão do Escritório Nacional de Viagens e Turismo (NTTO) é que somente em 2025 o número de turistas estrangeiros no país ultrapasse o pré-pandemia.
Confira abaixo a previsão de recuperação:
Chegadas de turistas estrangeiros nos Estados Unidos
- 2019: 79,5 milhões
- 2023: 66,5 milhões
- 2024: 77,7 milhões (previsão)
- 2025: 85,2 milhões (previsão, ultrapassando 2019)
- 2026: 91,1 milhões (previsão)
- 2027: 94,6 milhões (previsão)
- 2028: 96,8 milhões (previsão).
Fonte: NTTO
Serão seis anos de recuperação e correr atrás do tempo e do share internacional perdido é prioridade. Vale lembrar que a meta do então presidente Barack Obama, em 2014, era chegar a 2021 com 100 milhões de turistas do Exterior – claro, sem uma pandemia pela frente.
Esse será apenas um dos desafios que o novo presidente e CEO da Brand USA, Fred Dixon, herdará quando assumir o cargo em 15 de julho. Dixon é uma figura bastante respeitada no Turismo americano, com quase 19 anos no Turismo de Nova York (antes NYC & Company e agora New York City Tourism + Conventions), e com grande trânsito entre os diversos segmentos, destinos e players do Turismo mundial. No Brasil, Fred Dixon tem grande interlocução e presença, do Turismo de luxo às grandes operadoras.
O anúncio de que assumiria a Brand USA neste momento em que o órgão de promoção do Turismo dos Estados Unidos precisa desse novo gás e de um estrategista que conheça a fundo o viajante internacional foi muito bem recebido pelo trade americano e pelos players internacionais, muitos dos quais estiveram no IPW 2024, em Los Angeles, onde Fred Dixon ainda atuou como CEO do Turismo de Nova York.
No estande da cidade de Nova York no IPW de Los Angeles, Dixon recebeu a PANROTAS para uma entrevista exclusiva, ao lado de Nancy Mammana, CMO e interina como CEO, Tiffany Towsend, vice-presidente de Comunicações Globais, e Jesus Garcia, diretor para América Latina, Ásia e Mercado Hispânico doméstico; além de Osmar Maduro, da Interamerican, que representa o New York City Tourism + Conventions no Brasil. Dixon fez questão, aliás, de ressaltar a amizade com a família Roman, dona da Interamerican, em uma longa parceria com o Turismo de Nova York.
Como fazer o viajante estrangeiro explorar mais cidades nos Estados Unidos?
Um dado revelado por Fred Dixon mostra o tamanho da guinada que ele dará em sua carreira a partir de 15 de julho. E ele jura que ainda não caiu a ficha, em um misto de tristeza por deixar um time tão comprometido e brilhante, em suas palavras, e uma alegria e euforia por ter essa nova missão de promover todo o país.
Nova York recebeu 11,6 milhões de turistas estrangeiros (7,5 milhões entraram pelos aeroportos JFK ou Newark – este no Estado vizinho de New Jersey). E desses 11,6 milhões, 80% ficam apenas em Nova York. Ou seja, em seu novo cargo, Dixon vai precisar estimular que os estrangeiros explorem mais destinos do país.
“Mas não será tirando (turistas) de Nova York. Vamos crescer o mercado para todos”, se apressa em dizer.
Principais portões de entrada de turistas estrangeiros nos EUA (Fonte: NTTO)
- Nova York, 5,8 milhões
- Miami, 4,4 milhões
- Los Angeles, 3,3 milhões
- São Francisco, 1,9 milhão
- Newark, 1,7 milhão (que também pode ser somado na conta de NY)
- Orlando, 1,5 milhão
- Chicago, 1,46 milhão
- Houston, 1,2 milhão
- Dallas, 1 milhão
- Honolulu, 1 milhão
Recuperação em ritmo esperado
PANROTAS – Como vimos nas coletivas de imprensa da US Travel e de Nova York, os números de 2019 ainda não foram alcançados, quando falamos de turistas internacionais. Como acelerar essa recuperação?
FRED DIXON – É verdade. Tivemos, em Nova York, um ano de 2018 muito bom para os brasileiros, caiu um pouco em 2019, o que é normal, mas veio a pandemia. Estamos muito perto dos números de 2019, mas ainda não chegamos lá. O Brasil enviou 637 mil turistas no ano passado e deve chegar a 791 mil este ano, ultrapassando os números de 2019 em 2025.
PANROTAS – Por que está demorando tanto a recuperação?
DIXON – Não é uma surpresa pra gente (o tempo de recuperação). Tivemos grande crescimento no ano passado, mas não podemos ir de 66 milhões a zero e depois a 66 milhões em um passe de mágica. Estamos satisfeitos com esse retorno do mercado, especialmente do mercado brasileiro. Estamos voltando aos padrões normais, com os turistas se comportando como antes da pandemia. Trabalhamos muito duro para chegar aos resultados de 2019 e ver que a estratégia está funcionando (para recuperar os números) é uma coisa muito boa.
A boa e velha Nova York
PANROTAS – Você usou a palavra “normal”... Voltamos à normalidade do pré-pandemia ou algo mudou no turista que busca Nova York?
DIXON – Acho que os turistas que estão votando querem a velha e boa Nova York. O destino é popular por uma razão e acho que as mesmas coisas que atraíam as pessoas (para NYC) antes, estão atraindo agora novamente. Um dos dados interessantes, e isso é uma grande oportunidade para mim em meu novo trabalho (na Brand USA) é que 80% dos visitantes internacionais que estiveram em Nova York em 2023, visitaram apenas Nova York. Eles não combinaram a viagem com qualquer outra cidade. Isso mostra que querem realmente Nova York. Então estamos investindo para que fiquem mais dias, gastem mais, explorem mais a cidade e não apenas Manhattan. Temos um grande número de visitantes repetidos, inclusive do Brasil. Você lembra quando apenas Orlando estava no topo, com os parques temáticos e compras. E investimos no Brasil para atrair os brasileiros para Nova York. Alguns disseram que eles iriam, mas não repetiriam. O que não aconteceu. Os brasileiros amam Nova York e têm voltado. Também diziam que não seria um grande mercado para a Broadway... Estavam errados. O Brasil é um grande mercado para os shows da Broadway. E um dos primeiros eventos que fizemos em São Paulo, foi levar a Broadway para uma apresentação para o trade brasileiro, no Auditório Ibirapuera. Divulgamos diferentes facetas de Nova York no mercado brasileiro, e eles compraram...
PANROTAS – A que você atribui esse sucesso?
DIXON – A nosso trabalho e estratégia, contando com a Interamerican no Brasil, e porque o turista brasileiro é muito ligado no que está na moda, no que é tendência... Então eles vão atrás dessas novidades que apresentamos e que não necessariamente estão em Manhattan. Há muita tendência, muita coisa legal acontecendo nos demais bairros, como o Brooklyn. O mercado internacional, em geral, explora mais que o turista doméstico. Os estrangeiros pegam o metrô e exploram todos os bairros atrás dessas novas experiências.
PANROTAS – Um dos projetos mais ambiciosos foi a mudança de nome e marca... NYC & Company para New York City Tourism + Conventions. O I love New York acabou?
DIXON – Não. O I love New York é do Estado e continua. O que mudamos, depois da pandemia, foi a NYC & Company. Foi um projeto ousado e liderado pela Nancy (Mammana, CMO), que deu à organização uma cara mais nova, moderna, criativa, com muita energia. E que foi muito bem aceita pelo mercado. Queríamos um logo ousado e forte, e conseguimos.
Turistas além de Nova York
PANROTAS – O dado que mostra 80% dos estrangeiros visitando apenas Nova York são uma prova de que vocês fizeram um ótimo trabalho... Mantiveram o turista na cidade.
DIXON – Esses dados mostram também que os turistas estão usando Nova York como para um city break, uma escapada em um destino que amam. Mesmo para o brasileiro ou latino-americanos, que tem um voo longo, estamos vendo esse movimento de uma escapada em Nova York. O mercado de viagens de luxo, e o Brasil é forte nisso, é um dos segmentos que têm aproveitado essas viagens curtas direcionadas a Nova York.
PANROTAS – Mas agora, em seu novo cargo, talvez o objetivo seja o oposto, fazer com que os estrangeiros visitem mais destinos...
Eu sei, eu sei... E não posso tirar turistas de Nova York. Temos de trazer mais turistas para os Estados Unidos, crescer o bolo. Há muita oportunidade no Nordeste americano para combinar Nova York com outros destinos. Chicago quer aumentar seu share com os latino-americanos. Mas vejo que a grande oportunidade para crescer os turistas latinos nos Estados Unidos está em direção à Costa Oeste. É preciso mais voos e mais promoção. Sei que a Califórnia não está tão mais presente no Brasil, mas isso leva tempo para recuperar. Precisa fazer sentido para eles.
FRED DIXON
PANROTAS – E Nova York tem um dos melhores e mais bonitos aeroportos para essas conexões aéreas com destino a outras cidades americanas... LaGuardia está realmente muito bom.
DIXON – Sim, está fantástico, estamos muito orgulhosos com LaGuardia. JFK é o próximo, com muitas renovações a caminho. E ainda temos Newark, para os que voam United, que está maravilhoso também.
Ficha não caiu
PANROTAS – Como você define esse momento em sua carreira? Como está sentindo essa mudança depois de 19 anos vendendo e promovendo Nova York?
DIXON – É um momento agridoce para mim. Adoro esse time, essa cidade, estou muito orgulhoso do trabalho que fizemos, especialmente com os mercados internacionais. Quando entrei tínhamos quatro escritórios internacionais e hoje são 18. Lembro-me da reunião com Ricardo Roman, em uma Abav, e ele me apresentou a Dani (Danielle Roman, da Interametican), e ela estava grávida do Pedro... E deste então foi uma parceria muito boa. Também fico muito orgulhoso do trabalho que fizemos pela equidade no Turismo de Nova York. Nosso trabalho com as comunidades. Por isso que as pessoas voltam a Nova York, pelas boas experiências que têm na cidade.
A ficha ainda não caiu... Estou realmente muito empolgado. Vou continuar em Nova York, mas terei um lugar também em Washington D.C. Estou energizado, ainda em negação que estou deixando esse time. Mas tenho certeza que continuarão fazendo um ótimo trabalho.
Construindo pontes
PANROTAS – Mas você sempre teve um papel muito ativo na indústria, transita bem em todos os destinos, conhece as lideranças, conhece os mercados internacionais, já que todos têm Nova York como desejo... então isso vai facilitar seu trabalho à frente da Brand USA, certo?
DIXON – Sim, conheço bem a diversidade dos Estados Unidos quando falamos em Turismo. E vamos construir mais parcerias, mais pontes. Como Nova York já teve com São Paulo, quando a Luciane Leite estava no Turismo da cidade. Tivemos conversas para retomar essa parceria. Já que uma companhia aérea tem interesse nos dois mercados quando coloca um voo, do Brasil para os Estados Unidos e no sentido oposto também. Por isso essas pontes entre destinos são importantes. E isso vale para o doméstico. Quero trazer isso para a Brand USA. Como construir comunidades internacionais dentro dessa arena.
Copa do Mundo em Nova York
PANROTAS – Os grandes eventos com certeza terão papel importante na recuperação dos turistas e em criar uma nova comunidade internacional para os EUA... Copa do Mundo, Olimpíada, 250 anos da independência americana...
DIXON – Sim. Teremos a Copa do Mundo, com a final em Nova York (tecnicamente em New Jersey, já que Nova York não tem grandes estádios). Uma grande oportunidade para a região e para o país. Será o maior evento da história para Nova York, com oito jogos, e muitas atividades durante o torneio. Muitas oportunidades também para explorar os Estados Unidos. Faz sentido termos esses grandes eventos em cidades como Nova York.
Novo momento para o Turismo americano
Além da chegada de Fred Dixon à Brand USA, o Turismo dos Estados Unidos também tem um novo líder na US Travel, Geoff Freeman, e o trabalho conjunto dos dois novos chefes dessas entidades será fundamental para o sucesso da recuperação e além dela.
Sobre a chegada de Dixon, Freeman emitiu a seguinte declaração: "As profundas relações de Fred com a comunidade empresarial e em toda a indústria de Viagens o posicionam extraordinariamente bem para liderar a Brand USA e construir sobre a sólida base fornecida por Chris Thompson. A US Travel – e toda a indústria de viagens – parabeniza Fred por esta nova oportunidade merecida e aguarda com expectativa a parceria com ele para guiar a Brand USA rumo ao futuro."
Leia entrevista exclusiva com o presidente da US Travel Association, Geoff Freeman
Brand USA dá as boas-vindas
"Estamos encantados em dar as boas-vindas a Fred como o próximo CEO da Brand USA," afirmou o presidente do Conselho da Brand USA e CEO da Travel Oregon, Todd Davidson, que o chamou ao palco do almoço promovido pela entidade no IPW Los Angeles, na semana passada. Dixon foi então apresentado oficialmente aos mais de 5 mil profissionais que estiveram no evento. A Brand USA é parceria da US Travel no IPW, co-patrocinando o encontro, considerado o principal para a promoção internacional dos Estados Unidos. Em 2025, o evento será em Chicago, de 14 a 18 de junho.
"Fred traz uma riqueza de conhecimento e experiência de toda a indústria de Viagens e Turismo, e sua liderança estratégica, visionária e humilde provou que ele é a pessoa certa para levar a Brand USA e o marketing dos ricos e diversos destinos e experiências dos EUA a patamares ainda maiores. A capacidade da Brand USA de gerar impacto com os stakeholders e otimizar as contribuições econômicas críticas da indústria de viagens para a economia dos EUA prosperará sob a liderança de Fred”, continuou o presidente do Conselho da Brand USA.
Quem é Fred Dixon
Dixon entrou para o Turismo de Nova York (hoje New York City Tourism + Conventions) em 2005 como vice-presidente de Turismo e tornou-se CEO em 2014. Com mais de 30 anos de experiência no setor de Viagens, ele lidera a estratégia de Turismo, convenções e eventos da cidade, além da programação para aumentar as viagens de negócios e de lazer em todo o mundo. Durante sua gestão, a visitação internacional em Nova York mais do que dobrou, chegando a mais de 13 milhões de viajantes. Esse é o resultado de uma estratégia de longo prazo para criar uma rede global de postos avançados, composta por profissionais de vendas, marketing e imprensa em diversos mercados relevantes, incluindo Austrália, China, México, Brasil e Reino Unido. Hoje, a cidade de Nova York está representada em 18 mercados internacionais e ativa em quase 40 locais em todo o mundo.
Nos primeiros meses da pandemia, Dixon organizou a Coalition for NYC Hospitality and Tourism Recovery (Coalizão para a Recuperação da Hotelaria e do Turismo de Nova York), que reuniu líderes do setor nos cinco distritos para planejar um caminho de retomada. Em julho de 2020, a New York City Tourism + Conventions, anteriormente NYC & Company, e a coalizão publicaram “All In NYC: The Roadmap for Tourism's Reimagining and Recovery” (Tudo em Nova York: Roteiro para a Reimaginação e Recuperação do Turismo), que foi implementado com o apoio de um investimento de US$ 30 milhões da cidade para mensagens de recuperação e promoção local.
Dixon é um líder respeitado que atua em conselhos e comitês de associações do setor de viagens. Ele é o atual presidente da Destinations International, faz parte da diretoria da New York Convention Center Operating Corporation, da diretoria da IGLTA, da International LGBTQ+ Travel Association, do Comitê Executivo da U.S. Travel Association e é diretor do Conselho do Comitê Anfitrião de Nova York-New Jersey para a Copa do Mundo FIFA 26™.
Perfil do turista brasileiro em Nova York
Durante oIPW 2024, em Los Angeles, Fred Dixon, em seus últimos dias como CEO da New York City Tourism + Conventions, divulgou o perfil do turista brasileiro na cidade e disse que o Brasil é e continuará sendo mercado estratégico para Nova York.
- Brasil é o quarto maior emissor de turistas para Nova York
- Turistas brasileiros em NYC em 2023: 637 mil
- Previsão para 2024: 791 mil
- Previsão de ultrapassar os níveis de 2019: 2025
- Gastos de brasileiros na cidade (2022): US$ 670 milhões, US$ 1,1 mil por visitante por viagem
Comparando com outros turistas estrangeiros em Nova York, os brasileiros:
- Viajam com crianças
- Ficam em hotéis
- São mais jovens que a média de estrangeiros
- Reservam com antecedência
- Usam agências de viagens e distribuidores do trade.
Os brasileiros em Nova York estão mais propensos a fazer as seguintes atividades:
- Shows e musicais da Broadway
- Eventos esportivos
- Monumentos e parques nacionais
- Locais históricos.
Principais atividades dos brasileiros em NYC:
- Compras: 86% (mais que a média internacional)
- Passeios: 82% (na média internacional)
- Parques nacionais e monumentos: 56% (mais que a média internacional)
- Museus: 51% (mais que a média internacional)
- Locais históricos: 40% (mais que a média internacional)
- Shows e musicais: 35% (bem mais que a média internacional)
- Ida a bons restaurantes: 22% (abaixo da média internacional)
- Eventos esportivos: 21% (bem mais que a média internacional).
Em 2022, os brasileiros em Nova York:
- Visitaram a lazer: 86% (incluindo 13% na categoria visita a amigos e familiares)
- Viajaram sozinhos: 61%
- Com crianças: 11%
- Com parceiros: 19%
- Ficaram em hotéis: 72%
- Ficaram média de: 10 dias
- Média de idade: 38 anos
- Meses de maior fluxo: Janeiro, fevereiro e março
A PANROTAS viajou a convite da US Travel Association e United Airlines, com proteção GTA
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