Bonito (MS) e Socorro (SP) mostram como se tornaram destaques do ecoturismo
Gestoras do Turismo nos municípios mostraram seus segredos durante evento do Sebrae
Durante o Inspira Ecoturismo, evento organizado pelo Sebrae que discute os caminhos do Turismo voltado à natureza e aventura no Brasil, e que é realizado até amanhã (20) no Hotel Wetiga, em Bonito (MS), dois destinos mostraram porque já são referência nesse segmento promissor: o próprio município de Bonito e também o de Socorro, no interior de São Paulo.
A ideia era difundir as boas práticas adotadas nesses locais para que outros destinos com potencial de explorar esse nicho possam levá-las ao seu dia a dia. No Inspira Ecoturismo, estão presentes mais de 400 profissionais, entre gestores públicos, trade, guias de Turismo e pequenos empresários de atrativos turísticos, que vieram a Bonito trocar experiências visando a difusão do ecoturismo no Brasil.
Veja abaixo o que Bonito e Socorro compartilharam sobre seus cases de sucesso, enquanto destinos de referência no ecoturismo:
BONITO: GESTÃO COMPARTILHADA E GOVERNANÇA
O município sul-mato-grossense é privilegiado em atrativos naturais, tendo 36 opções de passeios em meio à natureza, entre trilhas, mergulhos, rapel e outras atividades de aventura. Mas somente essa exuberância natural não seria suficiente para que Bonito se consolidasse como polo do ecoturismo se não houvesse também uma forte organização que unisse poderes público e privado para aproveitar da melhor forma esse potencial. Esse foi o ponto da apresentação da secretária de Turismo, Indústria e Comércio de Bonito, Juliane Salvadori, no Inspira Ecoturismo.
“O destino é bonito, mas não adiantaria se não houvesse gestão organizada. Por causa de um trabalho conjunto que sempre visou resultados a longo prazo, chegamos a esse patamar em que nossa cidade tem mais leitos de hospedagem que a capital do Estado, Campo Grande", exemplificou Juliane. Bonito, inclusive, bateu seu recorde de visitantes recebidos em 2022.
Um exemplo concreto dessa parceria entre concorrentes do setor privado e também o setor público é o voucher único. Ele foi implementado ainda em 1995 para centralizar os registros de acesso aos atrativos de Bonito, sendo a única forma de acesso a eles. Exigiu comprometimento de todo o empresariado local para agir sob as mesmas regras, e garantiu que o impacto ao meio ambiente não ocorresse de forma predatória, mesmo nas altas temporadas.
Outro fator destacado por Juliane foi o Sistema de Gestão de Segurança (SGS), que estabelece regras minuciosas para as diversas práticas ligadas ao ecoturismo que acontecem nos atrativos. Em Bonito, está totalmente disseminada a norma NBR ISO 21101, que regula essas atividades no País com padrão internacional. Prática que o Sebrae, com a ajuda do destino, vai disseminar ao restante do Brasil com o programa Aventura Natural, por meio do qual irá subsidiar em 70% os custos para pequenos negócios do Turismo de natureza e aventura se adaptarem a essas normas. O Sebrae ainda mantém um polo de ecoturismo em Bonito, inaugurado em 2022.
Por fim, a secretária de Bonito destacou a interligação entre os vários entes governamentais, sobretudo como apoio do governo do Estado e da Fundtur-MS (Fundação de Turismo de Mato Grosso do Sul), que estava representada no painel por seu diretor-presidente, Bruno Wendling. Por meio da parceria entre Estado, município, CVB e empresários, criou-se por exemplo o Observatório do Turismo e Eventos de Bonito, que consolida dados e aponta tendências para o Turismo local.
SOCORRO: FOCO NOS TURISTAS QUE AGREGAM AO DESTINO
Distante 130 quilômetros da cidade de São Paulo, Socorro é um destino emergente como opção de ecoturismo. Não à toa foi escolhido em 2022 o melhor destino de aventura de São Paulo por Skal e Associação dos Dirigentes de Vendas e Marketing do Brasil. São mais de 30 atrações, entre rapel, arborismo, rafting, mountain bike e até uma tirolesa de 1 quilômetro de extensão.
Segundo Ana Luiza Russo, presidente do Comtur (Conselho Municipal do Turismo de Socorro) e vice-presidente na Astur, são três “segredos” que colaboraram para o desenvolvimento consistente do ecoturismo no destino: a seleção dos nichos de público preferenciais, a consciência com o meio-ambiente e a parceria público-privada.
No primeiro aspecto, Ana Luiza destacou como a proximidade de São Paulo pode ser, ao mesmo tempo, boa e ruim para o Turismo local: “Moramos muito próximos de grandes polos emissores. E isso é bom porque não precisamos de esforço para trazer turistas. Porém, traz outros tipos de problemas: superlotação nas férias e feriados, Turismo predatório e sazonalidade muito acentuada”, apontou. O Turismo “chacareiro”, com grupos de jovens alugando as chácaras do município e se concentrando nesses locais, não consumindo dos estabelecimentos comerciais e deixando uma grande quantidade de lixo e perturbação, era visto como problemático.
Assim, iniciou-se um trabalho de seleção de nichos de público que seriam interessantes para Socorro: pet-friendly, entendendo que famílias com pets costumam gastar mais; acessibilidade, já que PCDs costumam viajar com famílias e aumentam a taxa de ocupação dos hotéis; público “duas rodas”, ciclistas e motociclistas, que circulem pelo município; e famílias no geral.
O trabalho envolveu treinamento do trade local para atender esses públicos, articulação com outros setores da prefeitura para estabelecer novas leis, estabelecendo cuidados básicos para atender pessoas com mobilidade reduzida e permitindo que os restaurantes pudessem receber pets em seu espaço (o que era proibido). “Hoje, o estabelecimento escolhe se quer receber os pets, e a avaliação costuma ser que as adaptações necessárias são simples e baratas perto do volume financeiro que esse público gera”, observou. Hotéis, restaurantes e outros estabelecimentos podem obter junto à prefeitura o selo oficial de pet friendly.
Com isso, Socorro passou a ser considerada referência em acessibilidade e destino pet friendly por diferentes entidades públicas. No primeiro caso, apareceu como “modelo de Turismo acessível”, segundo pessoas ouvidas pelo Ministério do Turismo em uma pesquisa sobre o assunto. No segundo, foi destaque do guia pet friendly lançado no ano passado pela Secretaria de Turismo do Estado de São Paulo. E ainda uniu esse público ao Turismo de aventura: “Hoje, temos em Socorro atividades como ‘rafting dog’, ‘boia cross com pet’ e ‘stand-up dog’”, citou Ana Luiza.
Por Rafael Faustino, especial para o Portal PANROTAS
A ideia era difundir as boas práticas adotadas nesses locais para que outros destinos com potencial de explorar esse nicho possam levá-las ao seu dia a dia. No Inspira Ecoturismo, estão presentes mais de 400 profissionais, entre gestores públicos, trade, guias de Turismo e pequenos empresários de atrativos turísticos, que vieram a Bonito trocar experiências visando a difusão do ecoturismo no Brasil.
Veja abaixo o que Bonito e Socorro compartilharam sobre seus cases de sucesso, enquanto destinos de referência no ecoturismo:
BONITO: GESTÃO COMPARTILHADA E GOVERNANÇA
O município sul-mato-grossense é privilegiado em atrativos naturais, tendo 36 opções de passeios em meio à natureza, entre trilhas, mergulhos, rapel e outras atividades de aventura. Mas somente essa exuberância natural não seria suficiente para que Bonito se consolidasse como polo do ecoturismo se não houvesse também uma forte organização que unisse poderes público e privado para aproveitar da melhor forma esse potencial. Esse foi o ponto da apresentação da secretária de Turismo, Indústria e Comércio de Bonito, Juliane Salvadori, no Inspira Ecoturismo.
“O destino é bonito, mas não adiantaria se não houvesse gestão organizada. Por causa de um trabalho conjunto que sempre visou resultados a longo prazo, chegamos a esse patamar em que nossa cidade tem mais leitos de hospedagem que a capital do Estado, Campo Grande", exemplificou Juliane. Bonito, inclusive, bateu seu recorde de visitantes recebidos em 2022.
Um exemplo concreto dessa parceria entre concorrentes do setor privado e também o setor público é o voucher único. Ele foi implementado ainda em 1995 para centralizar os registros de acesso aos atrativos de Bonito, sendo a única forma de acesso a eles. Exigiu comprometimento de todo o empresariado local para agir sob as mesmas regras, e garantiu que o impacto ao meio ambiente não ocorresse de forma predatória, mesmo nas altas temporadas.
Outro fator destacado por Juliane foi o Sistema de Gestão de Segurança (SGS), que estabelece regras minuciosas para as diversas práticas ligadas ao ecoturismo que acontecem nos atrativos. Em Bonito, está totalmente disseminada a norma NBR ISO 21101, que regula essas atividades no País com padrão internacional. Prática que o Sebrae, com a ajuda do destino, vai disseminar ao restante do Brasil com o programa Aventura Natural, por meio do qual irá subsidiar em 70% os custos para pequenos negócios do Turismo de natureza e aventura se adaptarem a essas normas. O Sebrae ainda mantém um polo de ecoturismo em Bonito, inaugurado em 2022.
Por fim, a secretária de Bonito destacou a interligação entre os vários entes governamentais, sobretudo como apoio do governo do Estado e da Fundtur-MS (Fundação de Turismo de Mato Grosso do Sul), que estava representada no painel por seu diretor-presidente, Bruno Wendling. Por meio da parceria entre Estado, município, CVB e empresários, criou-se por exemplo o Observatório do Turismo e Eventos de Bonito, que consolida dados e aponta tendências para o Turismo local.
SOCORRO: FOCO NOS TURISTAS QUE AGREGAM AO DESTINO
Distante 130 quilômetros da cidade de São Paulo, Socorro é um destino emergente como opção de ecoturismo. Não à toa foi escolhido em 2022 o melhor destino de aventura de São Paulo por Skal e Associação dos Dirigentes de Vendas e Marketing do Brasil. São mais de 30 atrações, entre rapel, arborismo, rafting, mountain bike e até uma tirolesa de 1 quilômetro de extensão.
Segundo Ana Luiza Russo, presidente do Comtur (Conselho Municipal do Turismo de Socorro) e vice-presidente na Astur, são três “segredos” que colaboraram para o desenvolvimento consistente do ecoturismo no destino: a seleção dos nichos de público preferenciais, a consciência com o meio-ambiente e a parceria público-privada.
No primeiro aspecto, Ana Luiza destacou como a proximidade de São Paulo pode ser, ao mesmo tempo, boa e ruim para o Turismo local: “Moramos muito próximos de grandes polos emissores. E isso é bom porque não precisamos de esforço para trazer turistas. Porém, traz outros tipos de problemas: superlotação nas férias e feriados, Turismo predatório e sazonalidade muito acentuada”, apontou. O Turismo “chacareiro”, com grupos de jovens alugando as chácaras do município e se concentrando nesses locais, não consumindo dos estabelecimentos comerciais e deixando uma grande quantidade de lixo e perturbação, era visto como problemático.
Assim, iniciou-se um trabalho de seleção de nichos de público que seriam interessantes para Socorro: pet-friendly, entendendo que famílias com pets costumam gastar mais; acessibilidade, já que PCDs costumam viajar com famílias e aumentam a taxa de ocupação dos hotéis; público “duas rodas”, ciclistas e motociclistas, que circulem pelo município; e famílias no geral.
O trabalho envolveu treinamento do trade local para atender esses públicos, articulação com outros setores da prefeitura para estabelecer novas leis, estabelecendo cuidados básicos para atender pessoas com mobilidade reduzida e permitindo que os restaurantes pudessem receber pets em seu espaço (o que era proibido). “Hoje, o estabelecimento escolhe se quer receber os pets, e a avaliação costuma ser que as adaptações necessárias são simples e baratas perto do volume financeiro que esse público gera”, observou. Hotéis, restaurantes e outros estabelecimentos podem obter junto à prefeitura o selo oficial de pet friendly.
Com isso, Socorro passou a ser considerada referência em acessibilidade e destino pet friendly por diferentes entidades públicas. No primeiro caso, apareceu como “modelo de Turismo acessível”, segundo pessoas ouvidas pelo Ministério do Turismo em uma pesquisa sobre o assunto. No segundo, foi destaque do guia pet friendly lançado no ano passado pela Secretaria de Turismo do Estado de São Paulo. E ainda uniu esse público ao Turismo de aventura: “Hoje, temos em Socorro atividades como ‘rafting dog’, ‘boia cross com pet’ e ‘stand-up dog’”, citou Ana Luiza.
Por Rafael Faustino, especial para o Portal PANROTAS