Rodrigo Vieira   |   03/05/2024 08:00

Beto Santos está de volta e conta os planos com a Mondee Consolidadora

Aliás, por que Beto Santos voltou? Essa e outras resposta na entrevista exclusiva do ex-Esferatur

Divulgação/Mondee Consolidadora
Beto Santos, chairman da Mondee Consolidadora, diz que dinheiro foi o último motivo para voltar ao Turismo:
Beto Santos, chairman da Mondee Consolidadora, diz que dinheiro foi o último motivo para voltar ao Turismo: "me sinto vivo novamente"

De um lado, uma consolidadora aberta durante a pandemia, jovem e com estrutura enxuta. De outro, uma gigante internacional com declarado apetite pelo mercado brasileiro, onde já apresentou resultados expressivos em tão pouco tempo. Tailor e Mondee agora são uma só: Mondee Consolidadora Brasil, e a indústria está interessada em saber qual será o resultado dessa equação.

É justamente o que o Portal PANROTAS foi descobrir. Em entrevista com Beto Santos, chairman da Mondee Consolidadora, e com Emerson Camilo, fundador da Tailor e diretor comercial da empresa "incorporada" pela empresa do Texas, os principais pontos da parceria foram revelados.

Valor da negociação Tailor e Mondee

A estratégia de chegada da Mondee Consolidadora Brasil se deu por meio da compra dos ativos da Tailor. Contudo, não foi uma aquisição, nem fusão. Ambas as partes chamam de incorporação.

"Desta forma, nenhum valor foi pago, não há cheque na mesa", explica Beto Santos. "O valor do negócio vai ser visto ao longo dos próximos meses, quando as coisas começarem a se desenvolver. O contrato depende do desempenho da empresa. Por isso admiro a coragem do Emerson de aceitar um desafio sem saber valor, sem nem saber sequer se vai obter retorno. Claro que confiamos em êxito, mas diferentemente dos negócios com Orinter e Interep, não houve valor pela compra. É a crença em um projeto que dará certo, pois tem profissionais competentes, um mercado próspero e terá a melhor tecnologia para os agentes."

Por que voltar, Beto Santos?

Beto Santos vendeu duas empresas de Turismo em menos de cinco anos: a consolidadora Esferatur, para a CVC Corp, por R$ 245 milhões (2018), e a própria Orinter, para a Mondee, por R$ 220 milhões (2023). Por que voltar?

"Não torrei todo o dinheiro, se você está se perguntando", brinca o empresário. "É que a aposentadoria não combina comigo. Para mim, sempre foi divertido trabalhar. Eu estava ficando deprimido por estar longe do mercado. Nos seis meses em que eu avaliava meu retorno, voltei a ganhar vida e tive a certeza de que era isso que eu queria. Nunca fui uma pessoa de holofotes, feiras e eventos, então também não é vaidade. É apenas felicidade em atuar novamente. Voltei para me divertir e contribuir", aponta o chairman da Mondee Consolidadora, que viveu cláusula de impedimento de trabalhar no setor após o negócio da Esferatur, assim como seu ex-sócio Carlos Vazquez, agora seu concorrente na BRT.

"É um prazer competir com uma figura tão agitada como o Carlinhos. Ele é um irmão para mim, uma pessoa que me ajudou nos momentos mais difíceis. Nutro o maior respeito pelo ser humano e pelo profissional." Entre concorrências e sociedades, lá se vão 50 anos de relacionamento entre Santos e Vazquez.

Então, o apartamento que Beto Santos havia comprado em São Paulo voltará a ser utilizado. O catarinense promete boa presença na capital paulista para ficar por dentro dos negócios.

Quando os agentes terão novidades?

Divulgação
Emerson Camilo, no escritório antigo da Tailor Consolidadora. Empresa agora está no mesmo prédio da Orinter
Emerson Camilo, no escritório antigo da Tailor Consolidadora. Empresa agora está no mesmo prédio da Orinter

A maior expectativa dos agentes de viagens com a Mondee Consolidadora está em Tecnologia. Afinal, o DNA e o sucesso do grupo na América do Norte está justamente no digital. Então, quando vai chegar à consolidadora a tão prometida plataforma inédita?

Essa é uma pergunta para a qual não há resposta definitiva. Seria irresponsabilidade prever, dizem os diretores. "Pode acontecer em um mês ou um ano. Não vamos sossegar enquanto não nos entregarem essa plataforma, que precisa de ajustes para ficar do jeito que nossos clientes esperam. Primeiro vamos deixar o sistema 'mais brasileiro' e enquanto isso usamos a tecnologia atual da Tailor", afirma Beto Santos.

"O que podemos dizer é que será um sistema inédito, completo, com um conjunto de processos e adaptações que serão claros e intuitivos. Tudo isso acompanhado de um atendimento e eficiente, que é o nosso diferencial hoje", completa.

O que a Mondee viu na Tailor?

A Tailor tem aproximadamente 1,2 mil agentes de viagens ativos na plataforma e 35 funcionários. Está longe de figurar entre as maiores distribuidoras aéreas brasileiras, até porque compete em um mercado disputadíssimo. Segundo Beto Santos, a Mondee preza por empresas que não só sejam 100% B2B, mas que também tenham afinidade com o agente de viagens.

"Assim como foi com a Orinter, eles viram a afinidade da liderança (Emerson Camilo) com os agentes de viagens. Explorar as vendas aéreas era um desejo da Mondee desde o início. Decepcionaram-se quando souberam da cláusula de non-compete, pois queriam ter anunciado a consolidadora há um ano, mas souberam esperar e trarão ao Brasil tudo o que sabem de tecnologia e distribuição aérea. Eles sabem que têm de entrar com todos os recursos para terem sucesso em um mercado tão complicado.

Muito embora difícil, a consolidação é cada vez mais necessária no Brasil. Essa é a razão dada por Emerson Camilo para justificar o interesse da Mondee e a própria abertura da Tailor.

Setor de consolidação é cada vez mais fundamental na distribuição aérea do Brasil, diz Emerson Camilo
Setor de consolidação é cada vez mais fundamental na distribuição aérea do Brasil, diz Emerson Camilo

"Por mais que o número de consolidadoras tenha crescido e o volume de voos tenha caído, a consolidação ganha mais market share a cada ano. Depois de ter vivido quatro fusões e aquisições em empresas onde eu trabalhei, sabia que novas parcerias aconteceriam. Abri a Tailor já pensando nisso, só não esperava que fosse tão rápido ter o interesse de uma grande empresa", comemora Camilo. "Estou orgulhoso de fazer parte da Mondee e trabalhar com Ana Maria Berto", completa.

Sinergia com Orinter e Interep

PANROTAS / Marluce Balbino
Orestes Fintiklis, vice-presidente da Mondee Holding, e Ana Maria Berto, CEO da Orinter
Orestes Fintiklis, vice-presidente da Mondee Holding, e Ana Maria Berto, CEO da Orinter

Além da vontade de trabalhar, estar ao lado de uma operadora que é grife no mercado brasileiro motivou Beto Santos a voltar. Assim o executivo avalia a Orinter, uma empresa que, ainda nas suas palavras, tem uma base de dados que vale "um caminhão de dinheiro".

"'Sinergia' é uma palavra tão falada, mas pouco usada pelo Turismo. Sem usar o melhor de cada empresa e cada talento, as coisas são bem mais difíceis em uma fusão ou aquisição. Em uma das vendas da qual participei, destruíram uma grande empresa em praticamente seis meses por não aproveitar o melhor dela. Juntas, tínhamos 70% de participação, e o resultado final é uma empresa de 10% a 20% de share", afirma Beto Santos, sem mencionar nomes, mas claramente referindo à venda da Esferatur para a CVC Corp.

A Orinter tem seu próprio time de Produtos Aéreos, mas faltam ferramentas, condições e o traquejo de uma consolidadora, em sua avaliação.

Assim como funciona com Orinter e Interep, todo o backoffice, parte financeira, espaço físico, RH, burocracias e outras ações em comum ficarão embaixo do grupo Mondee. "É uma maneira importante de aumentarmos a rentabilidade da empresa. Sem contar que é um orgulho fazer parte deste grande grupo norte-americano", pondera Beto Santos.

O time da Mondee Consolidadora Brasil já atua no prédio da Orinter. Os produtos da operadora já compunham a parte terrestre da Tailor, que vai continuar existindo. "Tentaremos extrair o melhor de cada empresa. Consolidação é um outro CNPJ, é outro time que vai agregar. Ninguém vai sugar os esforços de ninguém", afirma Camilo.

As 'mãozinhas' de Marcelo Sanovicz e André Khouri

Faz décadas que Beto Santos e Emerson Camilo se conhecem. Ele se lembra bem do novo colega ainda bem jovem, como executivo da Alitalia. "Aquele menino era insistente, esforçado, batalhava pela companhia. Depois nos cruzamos em várias oportunidades pelo mercado", conta Santos. "No entanto, minha decisão final se baseou na opinião do Marcelo Sanovicz, figura que idolatro na consolidação aérea. Conversamos e ele me deu as referências. Não há aval melhor do que o de um amigo, de um ídolo."

Já André Khouri, da CNT Consolidadora, foi mencionado por Emerson Camilo. Segundo ele, Khouri foi o mentor, encorajador para que ele insistisse na abertura da Tailor no meio da maior crise já vivida pelo Turismo.

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