8 tendências no mercado de seguro viagem pós-pandemia
Especialistas comentam as lições que ficaram da crise sanitária global para o setor
Responsável pelo cancelamento de uma série de viagens, sobretudo as internacionais - em virtude do fechamento de fronteiras -, a pandemia de covid-19 é encarada como um marco para o mercado de seguro viagem, que viu seus produtos crescerem em importância e ganharem mais valor para turistas preocupados com restrições e com a própria saúde.
Na tão aguardada retomada da indústria de viagens, os seguros eram itens indispensáveis para quem queria voltar a viajar de cabeça tranquila. No entanto, quando a crise sanitária global foi controlada e a rotina de embarques e desembarques pelo mundo foi voltando ao normal, como ficaram posicionados os produtos de seguro na cesta de consumo? Como o nicho tem se organizado para reforçar a sua relevância? E que rumos essa atividade terá diante do novo momento que se apresenta?
Questões como essas foram levadas para companhias brasileiras que atuam no segmento e de suas respostas, a Revista PANROTAS elencou oito tendências no setor de seguro viagem no Brasil pós-pandemia de covid-19. Veja quais são:
1. Cobertura para cancelamentos e alterações
A pandemia, e a reviravolta de sua crise no setor, destacou a importância de coberturas abrangentes que incluam cancelamentos e alterações de planos de viagem devido a situações imprevistas, como surtos de doenças, lockdowns ou restrições de viagem de última hora. Seguros mais englobantes nesse aspecto ganham popularidade.
“A apreensão em relação a cancelamentos e mudanças de planos é uma preocupação para aqueles que estão cientes dessa cobertura, especialmente para os que reservam suas viagens com considerável antecedência e enfrentam possíveis contratempos até a data da partida", explica a sócia-diretora comercial da Coris, Cláudia Brito. De acordo com ela, sua empresa oferece cobertura em modalidades que dão garantia de reembolsos para multas das companhias aéreas, desde que comprovadas pelos fornecedores.
"São coberturas que abrangem 33 motivos que podem levar ao cancelamento ou interrupção da viagem. É importante destacar que a proteção de cancelamento entra em vigor a partir do momento da contratação do seguro até a data programada para a viagem. Por sua vez, a salvaguarda para situações de interrupção é aplicável caso a viagem já tenha sido iniciada", afirma a executiva.
2. Ênfase na saúde, na segurança e mais
Em linhas gerais, os viajantes agora estão mais conscientes da importância da saúde e segurança durante suas viagens. Os seguros podem começar a oferecer, por exemplo, coberturas mais detalhadas relacionadas a despesas médicas, quarentenas obrigatórias e testes de covid-19, além de fornecer informações atualizadas sobre protocolos de saúde em diferentes destinos.
Contudo, este é um bom momento de aproveitar da conscientização do viajante em embarcar protegido para ressaltar que o seguro viagem oferece outros itens. Além de cobrir despesas médicas, há uma gama de benefícios abrangentes como assistência em situações de cancelamento de viagem, reembolso por atrasos ou cancelamentos de voos, compensação por perda ou extravio de bagagem, suporte legal em caso de emergências jurídicas, auxílio em situações de perda de documentos e orientação sobre informações locais essenciais. Esses benefícios não apenas proporcionam segurança financeira, mas também tranquilidade em situações imprevistas, permitindo que os viajantes desfrutem de suas jornadas com mais confiança.
"A maior conscientização por parte dos brasileiros a respeito da necessidade de um bom seguro no planejamento de uma viagem não só se mantém como se reflete também na escolha por produtos mais robustos, com coberturas mais elevadas e maior valor agregado que, aliados à qualidade de atendimento, são os atributos mais valorizados pelos viajantes", comenta o gerente de Seguros de Vida Individual e de Viagem da Omint, Tiago Godinho.
3. Adaptabilidade das seguradoras à situação
Após a experiência com a pandemia de coronavírus, muitas companhias correram para incluir nos bilhetes de seguro viagem a cobertura para a covid-19. Desta forma, os viajantes puderam ter uma proteção adequada durante a crise sanitária global. Ainda que isso tenha sido de maneira excepcional, a proteção contra covid-19 continua na prateleira dos seguros viagem.
“A exclusão dos termos de epidemia e pandemia permanece nas condições gerais das seguradoras, pois não sabemos o que pode vir pela frente. Isso não mudou”, explica a diretora de Travel Insurance da Chubb, Helena Cunha. “No entanto, a covid-19 teve um enorme impacto no setor e, com isso, a Chubb, entendendo a situação, incluiu a oferta de proteção contra a covid-19, criando coberturas diferenciadas para a doença. Cada seguradora ofereceu este item, com seus modelos de preços e coberturas. É como se o processo de covid-19 tivesse sido tratado como exceção se considerarmos os termos pandemia e epidemia das condições gerais."
4. Uso de tecnologia e apps
A pandemia acelerou a adoção de tecnologias digitais em todos os segmentos e entre as empresas de seguro não foi diferente. Companhias desse nicho começaram e seguem desenvolvendo aplicativos que forneçam informações em tempo real sobre destinos, ofereçam serviços de telemedicina, permitam que os segurados façam reclamações de maneira mais eficiente e forneçam atualizações instantâneas sobre mudanças nas políticas de viagem.
Na compreensão do CEO do Affinity, Marilberto França, a aplicação dessas soluções tecnológicas no ponto de vista da venda de seguro viagem é necessária para simplificar o processo. "A venda do seguro viagem precisa ser cada vez mais simples e descomplicada", afirma.
O executivo lembra que a evolução tecnológica é uma das diretrizes para investimentos este ano, inclusive dentro da empresa que lidera. "Em 2022 triplicamos o tamanho da nossa equipe de TI com a contratação de novos profissionais. Nosso time vem trabalhando para oferecer sempre o que há de mais moderno no mercado. Na última semana, por exemplo, realizamos uma atualização de nosso sistema para agilizar a rotina de trabalho de todo nosso staff, agentes e corretores. O investimento em novas tecnologias para atender nosso cliente é uma das demandas principais de 2023".
5. Assistência virtual 24/7
Com as restrições de viagem e as flutuações nas situações de saúde, a demanda por assistência virtual 24 horas por dia, sete dias por semana, tende a aumentar. Isso pode incluir suporte para alterações de itinerário, informações sobre requisitos de entrada e saída e orientações sobre cuidados de saúde locais.
Quem vê com atenção especial essa tendência é o CEO da Intermac, Eduardo Aoki. O executivo recentemente ampliou a estrutura de atendimento da companhia e entende que oferecer este tipo de suporte é crucial para a companhia desse segmento no atual momento.
"Com a facilidade de comunicação que temos hoje (app de mensagem instantânea, aplicativo da própria empresa, telefone, chat) o passageiro percebeu que a comunicação pode se dar em qualquer momento e é fundamental. Empresas do nosso setor hoje oferecem, inclusive, telemedicina que pode atender o viajante onde quer que ele esteja, prestando as primeiras atenções", opina Aoki.
6. Customização de planos
Os viajantes podem procurar planos de seguro mais personalizados, que atendam às suas necessidades específicas de viagem. Isso poderia envolver a escolha de coberturas adicionais, como esportes de aventura, viagens de negócios ou viagens em família. Esse tipo de personalização é um caminho percorrido pela Universal Assistance, que lança mão da estrutura própria para flexibilizar, criar e alterar produtos de acordo com as necessidades detectadas. Conforme explica o diretor Comercial da empresa no Brasil, Roberto Oliveira, há espaço, inclusive, para a criação de produtos para o nosso mercado.
"Hoje contamos com produtos diferenciados para o trade, como, por exemplo, o produto específico para companhias marítimas e nosso produto de cancelamento prime, no qual oferecemos um cancelamento de viagem de US$ 10 mil, US$ 15 mil e US$ 20 mil”, cita Oliveira.
7. Parcerias estratégicas
As seguradoras podem estabelecer parcerias estratégicas com empresas de Turismo, companhias aéreas e hotéis para oferecer pacotes combinados que incluem seguro viagem. São iniciativas com potencial de atrair mais clientes e simplificar o processo de aquisição de seguros.
O diretor de Marketing da Hero Seguros, Thiago Favero, explica que essa tendência é conhecida como embedded insurance. Ao incorporar o seguro viagem como parte integrante de pacotes, a empresa simplica o processo de aquisição de seguros para os clientes, oferecendo uma abordagem mais conveniente e acessível para obter proteção durante suas viagens.
"Isso não apenas aumenta a atratividade dessas ofertas combinadas, mas também promove uma cultura de cuidado e segurança entre os viajantes", explica Favero.
"E essas parcerias estratégicas não se limitam apenas à atração de novos clientes. Elas também nos permitem aprofundar nosso entendimento das necessidades e expectativas dos viajantes, permitindo-nos ajustar nossos produtos e serviços de acordo com as demandas do mercado. Por meio desse diálogo constante com parceiros do setor de Turismo, podemos identificar tendências emergentes, padrões de comportamento do cliente e mudanças nas preferências, tudo isso para garantir que nossos produtos sejam altamente relevantes e precisos para as necessidades em constante evolução dos clientes finais", completa o executivo.
8. Ênfase em educação do viajante
As seguradoras podem investir na educação do viajante, fornecendo informações detalhadas sobre os riscos associados a diferentes destinos, os benefícios do seguro viagem e as medidas de segurança a serem adotadas durante a viagem.
Para o presidente da GTA, Celso Guelfi, essa é uma questão que realmente merece ser levada em consideração e envolve tanto o viajante como o agente de viagens que realiza as vendas.
"A educação do viajante passa necessariamente pelo maior preparo e conscientização dos agentes de viagens, que representam o principal elo do trade turístico com o consumidor brasileiro"
Na visão de Guelfi, faz parte da missão das companhias de seguro ajudar o intermediário a ter mais subsídios e argumentos para estimular a venda junto ao cliente final. "Mas muito além de efetivar a compra do produto, queremos que o passageiro tenha a clara percepção de que está garantindo uma viagem muito mais tranquila e livre de imprevistos", reafirma.
Esta matéria faz parte da Revista PANROTAS especial Seguro Viagem, em circulação nesta semana. Confira a edição digital completa abaixo: