Da Redação   |   05/12/2024 11:40
Atualizada em 05/12/2024 12:43

Tamara Klink emociona a plateia no Tomorrow Blue Economy, em Niterói (RJ)

Congresso tem palestra da velejadora brasileira sobre experiência de invernagem solitária no Ártico


PANROTAS / Marluce Balbino
Tamara Klink
Tamara Klink

NITERÓI (RJ) - A velejadora Tamara Klink foi a grande atração do primeiro dia do Tomorrow Blue Economy, evento internacional sobre economia azul, ou economia oceânica, realizado em Niterói (RJ). Com brilho nos olhos, Tamara, de 27 anos, encantou o público narrando sua experiência de passar oito meses sozinha, durante o período mais frio do ano, em um veleiro no Ártico.

Com o tema “Rumo ao essencial: lições do Ártico sobre recursos limitados e mudanças climáticas”, Tamara começou a apresentação mostrando um vídeo que gravou para a avó antes de começar a viagem que a levou da França a Irlanda e, em seguida, à Groenlândia: “Estarei conectada com as mudanças da natureza. Decidi gestar uma viagem, em vez de uma vida. As transformações pelas quais vou passar virão de fora para dentro”.

Graduada em arquitetura em São Paulo, Tamara foi a brasileira mais jovem a cruzar o Oceano Atlântico sozinha em um veleiro, aos 24 anos, em 2021, saindo da Noruega e chegando ao Brasil. A aventura é contada no livro “Nós: o Atlântico em solitário”, lançado em 2023.

“Para mim era navegação, mas descobri que para muita gente é inspiração. Sempre sonhei em navegar sozinha porque, quando era criança e meu pai [o navegador Amyr Klink], estava longe, minha mãe contava histórias do que ele deveria estar fazendo e vendo a cada dia. Sonhava com baleias e albatrozes. Escolhi estudar arquitetura para aprender a preparar projetos, porque meu pai disse que eu tinha que aprender por mim mesma”

Tamara Klink

Para o inverno no mar congelado no Ártico, Tamara levou outros padrões em conta:

“Ao escolher a Groenlândia, considerei os padrões climáticos. O Ártico está deixando de ser um ar-condicionado do planeta para se tornar um aquecedor. O gelo fica cada vez mais fino e derrete mais rápido. Tinha que pensar em tudo isso na preparação da viagem, e, também, nos meus medos, como ser atacada por um urso polar, bater em um iceberg ou ter uma crise de apendicite. Minha principal motivação era clara: terminar a viagem com vida. Não era uma fuga, e, sim, uma busca. Para que desse certo, tive que conversar com muita gente com quem nunca teria conversado e aprender muitas coisas que nunca teria aprendido”.

Tamara ressaltou que o período de preparação para a viagem durou mais do que os oito meses a bordo e que teria valido a pena por si só. O projeto ganhou forma no Porto de Lorient, na Bretanha, no noroeste da França. A velejadora explicou a escolha da base de partida:

“É um porto que reúne muita gente se preparando para navegações. Eu era apenas mais uma e aprendi até a costurar minha própria pele. Primeiro fui da França para a Irlanda, e segui para a Groenlândia. O ar esfriou, começou a nevar e os icebergs eram assustadores, ainda que estejam cada vez menores. Foram três meses sem ver a luz do sol. De vez em quando pescava, e, às vezes, uma raposa roubava o peixe congelado. Mas não foi apenas um exercício de sobrevivência. Estava feliz. Caminhava muito e queria que aquela experiência durasse para sempre. Tentava escrever, mas as palavras pareciam insuficientes. Pagamos um preço alto para termos muitos recursos. Aprendi a ir longe e a fazer muito com recursos limitados”.

Aplaudida de pé pela plateia, Tamara ressaltou que Amyr Klink não deu conselhos nem ajudou no projeto, mas a incentivou a falar com outras pessoas e procurar diferentes modelos:

“Meu pai fez invernagem na Antártica. A experiência dele e de outros navegadores foi essencial para eu calcular a quantidade de alimentos, por exemplo. Meu espaço era menor, levei menos comida que meu pai, errei menos porque ele errou mais. Fazer mais com menos é evolução, é o resultado de um aprendizado intergeracional e coletivo. Porque sou mulher, achei importante começar sozinha. É muito bom estar num lugar como o mar, que é indiferente ao meu gênero. Agora me sinto mais pronta e com vontade de navegar em conjunto. Os perigos não serão menores, mas juntos podemos alcançar mais pessoas”.

O Tomorrow Blue Economy é uma iniciativa da consultoria iCities e da Fira Barcelona, em parceria com a Prefeitura de Niterói.


Por Carla Lencastre, especial para a PANROTAS, que é media partner do Tomorrow Blue Economy Niterói

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