Turismo em excesso – parte 1: Deus me livre ou quem me dera?
Overtourism é dor de cabeça para destinos ao redor do mundo: moradores e turistas ficam insatisfeitos com esse fenômeno. Exemplos de Barcelona, Veneza, Nova York podem ajudar outros destinos
Entre hoje até quinta-feira (26), o Portal PANROTAS trará uma série de quatro reportagens sobre um problema mundial: o excesso de turistas ou overtourism. Um sinal de que o destino é um sucesso, mas também de falta de planejamento, divulgação, atrativos e de sustentabilidade. O overtourism pode acabar com destinos e atrativos, e com o bem-estar de moradores. Boa leitura e participe enviando seus comentários.
De uns anos para cá, os altos índices de visitação turística em determinados destinos deixaram de ser apenas motivo de comemoração para se tornarem também uma constante preocupação. O overtourism tem sido tema de diversos debates promovidos por órgãos de Turismo ao redor do mundo e tudo indica que - muito em breve - o termo fará parte dos dicionários.
O fato de os visitantes não conseguirem ver e fotografar monumentos por causa da multidão ao redor, os congestionamentos nas estradas, a degradação do meio ambiente e o impacto na vida selvagem são sinais claros de que é hora de abrir os olhos para este problema.
A situação chegou ao ponto de moradores locais saírem às ruas para protestarem contra a chegada de turistas – isso quando não são obrigados a deixar as cidades, expulsos pela especulação imobiliária (ajudada por fenômenos como o Airbnb), pela transformação de suas cidades em locais estritamente turísticos e pelo alto custo de vida.
O overtourism pode, também, acabar com o destino, pois o “novo turista” não quer ficar preso em uma “armadilha para turistas”, ele quer a experiência local, a cidade como ela é, sem máscaras e maquiagens, sem filas e horário marcado.
LEIA AS DEMAIS EDIÇÕES ABAIXO
TURISMO EM EXCESSO - PARTE 2: CIDADES PODEM PERDER 'PATRIMÔNIO'
TURISMO EM EXCESSO - PARTE 3: ALÉM DOS GRANDES DESTINOS
TURISMO EM EXCESSO - PARTE 4: O PAPEL DAS AGÊNCIAS E OPERADORAS
Atualmente muitos destinos se veem vítimas de seu próprio sucesso e obrigados a mudar o planejamento urbano e a estratégia de vendas para tentar amenizar os impactos do Turismo de massa, tornando a visitação mais sustentável. O overtourism é causado por um sucesso que veio sem planejamento, sem investimentos em infraestrutura e sem engajamento da população local, já que empregos, impostos e benfeitorias são gerados pelo Turismo.
Um "problemão" do nosso século, mas que só vai piorar: as chegadas internacionais no mundo devem alcançar 1,8 bilhão em 2030 (500 milhões a mais que em 2017), segundo a Organização Mundial do Turismo (OMT), e o número de pessoas viajando de avião pulará de 4,1 bilhões no ano passado para 7,8 bilhões em 2030, de acordo com a Associação Internacional de Transporte Aéreo (Iata). Imaginem o quanto os aeroportos, por exemplo, terão de melhorar seus processos e estrutura para atender a essa demanda.
E todas as pesquisas de comportamento revelam que as pessoas querem viajar mais a lazer e irão fazê-lo. É o segmento com maior potencial de crescimento na indústria, já que as viagens de negócios dependem mais de fatores econômicos, são mais curtas e têm menos impacto no dia a dia de cidades e destinos (exceção para os grandes eventos).
ESPANHA NA FRENTE
Barcelona, na Catalunha, é um desses destinos que sofrem com o excesso de turistas. No ano passado, a cidade recebeu mais de oito milhões de visitantes, e após recorrentes manifestações de moradores por conta do aumento dos aluguéis, impulsionado pelo excesso de turistas na cidade e pela proliferação de opções de economia compartilhada como o Airbnb, o destino resolveu criar um plano estratégico para questões como mobilidade, gerenciamento de regiões de alto tráfego e acomodação.
Neste último caso, foi limitado o número de leitos oferecidos em hotéis e apartamentos, além da regulação da construção de hotéis e da emissão de novas licenças de apartamentos para turistas. Mas isso não é tudo. É preciso também encontrar novos meios de vender o destino.
A falta de atrações para espalhar os visitantes por uma região (ou a falta de promoção das mesmas entre os consumidores), a sazonalidade do Turismo (no caso de viagens domésticas, uma mudança de calendário escolar já resolveria parte dos problemas, com diferentes regiões com períodos distintos de férias) e o visitante ainda mais preocupado com o ícone turístico do que com o local em si são agravantes de qualquer destino que sofre com overtourism.
“Os escritórios de Turismo da Catalunha e de Barcelona têm buscado, juntos, mostrar que a região tem muitos outros atrativos além de Barcelona, podendo assim distribuir o fluxo de visitantes por outras localidades. Estamos trabalhando com pacotes turísticos que unem a visita a Barcelona a outros lugares como Montserrat, as vinícolas, destinos de neve, o complexo de parques temáticos de Port Ventura, entre outros”, comenta o diretor do Turismo da Catalunha na América do Sul, Joan Romero.
LONDRES E NOVA YORK
A promoção de pontos turísticos menos visitados é uma estratégia também adotada por cidades como Londres, onde o overtourism já virou até tema de jogo. O Play London With Mr. Bean, game desenvolvido pela Secretaria de Turismo de Londres em parceria com uma startup, permite que os turistas “descubram” atrações que não desfrutam de tanta popularidade e os recompensa com vouchers por meio de pontuação obtida pela visitação.
O jogo estimula a distribuição dos turistas pela cidade, aliviando pontos turísticos saturados. A cobrança ou a proibição para a circulação de automóveis no centro das cidades são outras medidas causadas tanto pelo turismo excessivo quanto pela busca da sustentabilidade.
Já Nova York (EUA) é outro destino que tem se empenhado para amenizar os impactos do overtourism e a equipe de marketing da cidade desenvolveu uma campanha sugerindo aos visitantes que se hospedem no bairro do Brooklyn ao invés de ficarem em Manhattan.
Porém, mesmo com todas essas medidas, não é fácil controlar o fluxo cada vez maior de viajantes nos destinos, impulsionado pelas companhias aéreas de baixo custo, especialmente na Europa. Barcelona espera para este ano um número de turistas 10% maior do que no ano passado, e a visitação à cidade nessa época (de junho a agosto) é mais alta. “A Copa do Mundo interferiu um pouco na visitação, porque as pessoas preferem ficar em casa assistindo aos jogos com a família”, comenta Romero.
O turismo corporativo de eventos também agrega uma grande quantidade de visitantes ao destino, que no ano passado recebeu 450 congressos, número que deve se manter o mesmo este ano, de acordo com o Observatório de Turismo de Barcelona (OTB). Vale lembrar que São Paulo também sofre com alguns eventos durante o ano, especialmente na questão de mobilidade. Os participantes reclamam do trânsito e das longas distâncias a serem percorridas.
NAVIOS
A chegada de grandes navios de cruzeiros, apontada como um dos maiores geradores do overtourism, é vista por Romero com bons olhos.
“Os cruzeiros são muito importantes para o Turismo de Barcelona e acredito que a questão é saber trabalhar os pacotes da forma correta. Geralmente os turistas chegam em Barcelona, passam duas noites no destino, depois fazem o roteiro de navio pelo Mediterrâneo e retornam para a cidade, passando nela mais duas noites. O segredo é saber trabalhar esse período pré e pós-cruzeiro, para que a visitação à cidade seja feita e forma organizada”, comenta o diretor do Turismo da Catalunha na América do Sul.
CONTINUA AMANHÃ
De uns anos para cá, os altos índices de visitação turística em determinados destinos deixaram de ser apenas motivo de comemoração para se tornarem também uma constante preocupação. O overtourism tem sido tema de diversos debates promovidos por órgãos de Turismo ao redor do mundo e tudo indica que - muito em breve - o termo fará parte dos dicionários.
O fato de os visitantes não conseguirem ver e fotografar monumentos por causa da multidão ao redor, os congestionamentos nas estradas, a degradação do meio ambiente e o impacto na vida selvagem são sinais claros de que é hora de abrir os olhos para este problema.
A situação chegou ao ponto de moradores locais saírem às ruas para protestarem contra a chegada de turistas – isso quando não são obrigados a deixar as cidades, expulsos pela especulação imobiliária (ajudada por fenômenos como o Airbnb), pela transformação de suas cidades em locais estritamente turísticos e pelo alto custo de vida.
O overtourism pode, também, acabar com o destino, pois o “novo turista” não quer ficar preso em uma “armadilha para turistas”, ele quer a experiência local, a cidade como ela é, sem máscaras e maquiagens, sem filas e horário marcado.
LEIA AS DEMAIS EDIÇÕES ABAIXO
TURISMO EM EXCESSO - PARTE 2: CIDADES PODEM PERDER 'PATRIMÔNIO'
TURISMO EM EXCESSO - PARTE 3: ALÉM DOS GRANDES DESTINOS
TURISMO EM EXCESSO - PARTE 4: O PAPEL DAS AGÊNCIAS E OPERADORAS
Atualmente muitos destinos se veem vítimas de seu próprio sucesso e obrigados a mudar o planejamento urbano e a estratégia de vendas para tentar amenizar os impactos do Turismo de massa, tornando a visitação mais sustentável. O overtourism é causado por um sucesso que veio sem planejamento, sem investimentos em infraestrutura e sem engajamento da população local, já que empregos, impostos e benfeitorias são gerados pelo Turismo.
Um "problemão" do nosso século, mas que só vai piorar: as chegadas internacionais no mundo devem alcançar 1,8 bilhão em 2030 (500 milhões a mais que em 2017), segundo a Organização Mundial do Turismo (OMT), e o número de pessoas viajando de avião pulará de 4,1 bilhões no ano passado para 7,8 bilhões em 2030, de acordo com a Associação Internacional de Transporte Aéreo (Iata). Imaginem o quanto os aeroportos, por exemplo, terão de melhorar seus processos e estrutura para atender a essa demanda.
E todas as pesquisas de comportamento revelam que as pessoas querem viajar mais a lazer e irão fazê-lo. É o segmento com maior potencial de crescimento na indústria, já que as viagens de negócios dependem mais de fatores econômicos, são mais curtas e têm menos impacto no dia a dia de cidades e destinos (exceção para os grandes eventos).
ESPANHA NA FRENTE
Barcelona, na Catalunha, é um desses destinos que sofrem com o excesso de turistas. No ano passado, a cidade recebeu mais de oito milhões de visitantes, e após recorrentes manifestações de moradores por conta do aumento dos aluguéis, impulsionado pelo excesso de turistas na cidade e pela proliferação de opções de economia compartilhada como o Airbnb, o destino resolveu criar um plano estratégico para questões como mobilidade, gerenciamento de regiões de alto tráfego e acomodação.
Neste último caso, foi limitado o número de leitos oferecidos em hotéis e apartamentos, além da regulação da construção de hotéis e da emissão de novas licenças de apartamentos para turistas. Mas isso não é tudo. É preciso também encontrar novos meios de vender o destino.
A falta de atrações para espalhar os visitantes por uma região (ou a falta de promoção das mesmas entre os consumidores), a sazonalidade do Turismo (no caso de viagens domésticas, uma mudança de calendário escolar já resolveria parte dos problemas, com diferentes regiões com períodos distintos de férias) e o visitante ainda mais preocupado com o ícone turístico do que com o local em si são agravantes de qualquer destino que sofre com overtourism.
“Os escritórios de Turismo da Catalunha e de Barcelona têm buscado, juntos, mostrar que a região tem muitos outros atrativos além de Barcelona, podendo assim distribuir o fluxo de visitantes por outras localidades. Estamos trabalhando com pacotes turísticos que unem a visita a Barcelona a outros lugares como Montserrat, as vinícolas, destinos de neve, o complexo de parques temáticos de Port Ventura, entre outros”, comenta o diretor do Turismo da Catalunha na América do Sul, Joan Romero.
LONDRES E NOVA YORK
A promoção de pontos turísticos menos visitados é uma estratégia também adotada por cidades como Londres, onde o overtourism já virou até tema de jogo. O Play London With Mr. Bean, game desenvolvido pela Secretaria de Turismo de Londres em parceria com uma startup, permite que os turistas “descubram” atrações que não desfrutam de tanta popularidade e os recompensa com vouchers por meio de pontuação obtida pela visitação.
O jogo estimula a distribuição dos turistas pela cidade, aliviando pontos turísticos saturados. A cobrança ou a proibição para a circulação de automóveis no centro das cidades são outras medidas causadas tanto pelo turismo excessivo quanto pela busca da sustentabilidade.
Já Nova York (EUA) é outro destino que tem se empenhado para amenizar os impactos do overtourism e a equipe de marketing da cidade desenvolveu uma campanha sugerindo aos visitantes que se hospedem no bairro do Brooklyn ao invés de ficarem em Manhattan.
Porém, mesmo com todas essas medidas, não é fácil controlar o fluxo cada vez maior de viajantes nos destinos, impulsionado pelas companhias aéreas de baixo custo, especialmente na Europa. Barcelona espera para este ano um número de turistas 10% maior do que no ano passado, e a visitação à cidade nessa época (de junho a agosto) é mais alta. “A Copa do Mundo interferiu um pouco na visitação, porque as pessoas preferem ficar em casa assistindo aos jogos com a família”, comenta Romero.
O turismo corporativo de eventos também agrega uma grande quantidade de visitantes ao destino, que no ano passado recebeu 450 congressos, número que deve se manter o mesmo este ano, de acordo com o Observatório de Turismo de Barcelona (OTB). Vale lembrar que São Paulo também sofre com alguns eventos durante o ano, especialmente na questão de mobilidade. Os participantes reclamam do trânsito e das longas distâncias a serem percorridas.
NAVIOS
A chegada de grandes navios de cruzeiros, apontada como um dos maiores geradores do overtourism, é vista por Romero com bons olhos.
“Os cruzeiros são muito importantes para o Turismo de Barcelona e acredito que a questão é saber trabalhar os pacotes da forma correta. Geralmente os turistas chegam em Barcelona, passam duas noites no destino, depois fazem o roteiro de navio pelo Mediterrâneo e retornam para a cidade, passando nela mais duas noites. O segredo é saber trabalhar esse período pré e pós-cruzeiro, para que a visitação à cidade seja feita e forma organizada”, comenta o diretor do Turismo da Catalunha na América do Sul.
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