Pablo Morbis, novo presidente do Sindepat, analisa momento do setor de parques e atrações
Revista PANROTAS conversou com Pablo Morbis, CEO do Grupo Cataratas, que é o novo presidente do Sindepat
Antes de retornar a Fernando de Noronha, onde já morou e quer viver permanentemente, o CEO do Grupo Cataratas, Pablo Morbis, tem muito a fazer pelo setor, ainda mais agora que acaba de assumir a presidência do Conselho do Sistema Integrado de Parques Temáticos e Atrações, o Sindepat, que reúne mais de 100 dos principais equipamentos de lazer do País. Sem falar nas obras de expansão em Foz do Iguaçu (junto com a Urbia o Cataratas administra o Parque Nacional), no início da administração no parque de Jericoacoara, nos planos a médio prazo para a área do Cristo Redentor (onde o grupo administra o Paineiras Corcovado e todo o transporte oficial de vans) e outros que ele ainda não revelou – mas que devem estar no forno.
A decisão (ainda a ser debatida com a esposa, Gabriela) de morar em Noronha vem do período em que passou por lá, no começo da concessão do parque nacional pelo Grupo Cataratas. Foram quase cinco anos intensos, de trabalho com a comunidade, organização da visitação ao parque e ordenamento dos equipamentos. A paixão foi dupla em Noronha: pelo destino e por Gabriela, que conheceu na ilha e com quem tem dois filhos, Gabriel e Henrique.
Antes de chegar a Noronha e ao Grupo Cataratas, Pablo Morbis, curitibano e engenheiro civil, trabalhou na Kibon (“onde tive os primeiros lampejos de que Turismo é entretenimento, como o Alê Costa da Cacau Show está mostrando pra gente”), foi subprefeito de Beto Richa em Curitiba e quebrou ao empreender na indústria de calçados. Reza a lenda que até hoje ele tem estoque de famosas sandálias em um quarto de seu apartamento...
A vida pública trouxe vários ensinamentos, segundo ele, de ter de fazer entregas para uma alta demanda com poucos recursos até a importância de uma boa relação do governo com a comunidade, o que veio a usar em Noronha, ao chegar para representar o Grupo Cataratas.
“As demandas na vida pública sempre são maiores do que conseguimos atender, mas não tem frustração, pois buscamos otimizar recursos, temos ótimo quadro de funcionários nas prefeituras, conseguimos avançar em vários pontos. Aliás, a sociedade às vezes tem uma imagem errada do servidor público. Tem muita gente de primeira qualidade”, afirma.
Foram seis anos na vida pública e em 2010 ingressou no Grupo Cataratas, fruto da união de empresários paranaenses, e foi para Fernando de Noronha, cuidar da implantação da concessão. O Cataratas já tinha os direitos de explorar o Parque Nacional em Foz do Iguaçu desde 1998 (a Lei de Concessão é de 1996) e já tinha aprendido (e sofrido) sendo pioneiros nesse novo negócio. Em 2007 houve uma negociação com o governo e um reequilíbrio contratual assinado, ou seja, Noronha chega em um novo momento no setor de concessões, mas não sem conflitos, dessa vez com a comunidade.
“Venderam a ilha, foi o que pensaram os moradores. Tivemos de trazê-los para nosso lado, mostrar nossos objetivos, engajar a comunidade. Começamos com a contratação dos moradores, dos integrantes das famílias tradicionais. Mostramos seriedade e que não iríamos concorrer com eles. Ou seja, não estávamos lá para abrir pousadas, restaurantes, e sim para melhorar e estruturar o destino, garantir a preservação com eles.” E dar visibilidade a todo aquele paraíso. A Praia do Sancho, por exemplo, nunca havia entrado no Top 10 do TripAdvisor. E é a mesma praia desde sempre. O que mudou? A estrutura levada pelo Grupo Cataratas, que demarcou trilhas, levou serviço, melhorou a escada, distribuiu passarelas pelo local. “Beleza mais infraestrutura e serviços não tem pra ninguém”, garante.
“Queremos que o visitante veja que o parque não é apenas as Cataratas. Toda a área do lado esquerdo da rodovia tem um potencial enorme de atividades junto à natureza. Tem o rio, mata virgem, aventura, trilhas na copa das árvores, tirolesa... Queremos que um passeio que hoje dura meio dia seja de dia inteiro ou mais”
Pablo Morbis, novo presidente do Sindepat
Até breve, Noronha
Em 2015, o chamado levou Pablo ao Rio de Janeiro e em um ano ele e seu time abriram o Centro de Visitação Paineiras Corcovado, que deveria estar pronto para a Olimpíada 2016. E ficou.
“Foi uma insanidade, mas também uma satisfação poder levar um novo produto turístico para o Rio. Oferecer experiências diferenciadas no Cristo Redentor como um todo. O Trem do Corcovado também se revitalizou na época, então o produto ficou muito bom. Agora, temos o desafio de revitalização do alto do Corcovado, e estamos falando com o ICMBio, com a igreja, para aumentar a capacidade, melhorar os acessos...”, explica, já baseado no Rio, com escritório dentro do AquaRio, outro equipamento do Grupo Cataratas na cidade (há ainda o BioParque, antigo zoológico). De 2015 a 2019 administrou Paineiras e Noronha (sim, ele manteve um pé por lá) e em 2020, sete dias antes da pandemia, assumiu como CEO do Grupo Cataratas. Era também o período da renovação da concessão em Foz do Iguaçu, que foi conseguida com termos mais modernos, e em parceria com o Grupo Construcap/Urbia.
Os planos para Foz, aliás, estão a todo vapor: de um aquário, o AquaFoz, previsto para 2025, a novas experiências dentro do Parque Nacional, incluindo novas passarelas na Garganta do Diabo, trilhas a pé e de bike, arvorismo e um novo centro de visitantes. O masterplan está parcialmente aprovado pelo ICMBio e o objetivo é preparar o parque para receber o dobro de sua capacidade atual, ou seja, saltar para quatro a cinco milhões de pessoas por ano.
Também as obras do Marco das Três Fronteiras, no projeto do Espaço das Américas, estão avançando, ainda na fase de licenciamento ambiental e devem começar em 2025. “Foz é nosso principal hub de obras, mas também temos Jeri, no Ceará. Assinamos em junho e há uma transição de até seis meses, já estamos com o masterplan e o objetivo, como em Noronha, é organizar e estruturar a visitação”, diz Pablo, que no Ceará também tem a parceria com a Construcap.
O setor de parques e atrações no Brasil
Na liderança do Sindepat, sucedendo Murilo Pascoal, do Beach Park, que fez um trabalho bastante elogiado tanto na parte política quanto técnica, Pablo Morbis sabe da importância de os líderes do setor doarem parte de seu tempo para associações e indústrias. E agora chegou sua vez.
Recebendo 128 milhões de visitantes ao longo do ano passado (39 milhões a mais que o verificado em 2022), o setor de parques e atrações turísticas no Brasil faturou R$ 8,2 bilhões e empregou 182 mil pessoas diretamente em 2023, segundo o Panorama Setorial - Parques, atrações e entretenimento no Brasil, um dos legados de Pascoal no Sindepat.
“Não temos como não falar em continuidade na gestão do Sindepat. O Murilo mostrou a importância de estarmos unidos dentro da associação, mas também no Turismo. O G20 foi uma grande conquista nesse sentido, precisávamos nos organizar, ter voz, e o grupo mostrou isso. Também vimos a importância de chegar com dados e números quando formos falar com o poder público. As definições da Lei Geral do Turismo também mostraram como temos de ter articulação política. Ou seja, vamos continuar essas frentes que o Sindepat abriu na gestão do Murilo, do Alain (Baldacci)...”
Como está essa indústria?
Segundo a análise de Morbis, os parques aquáticos e os pequenos parques temáticos (como o Parque da Mônica e o NBA Park Gramado) são os subsetores que mais crescem nesse segmento abraçado pelo Sindepat. O mercado, segundo ele, está em ebulição e isso inclui os investimentos nas concessões de parques naturais ou urbanos, as atrações, os empreendimentos hoteleiros com entretenimento e lazer atrelados, os planos da Cacau Show. E muito mais.
Atingiu o limite?
Mas ebulição pode significar excesso? Segundo ele não. O único destino onde talvez haja um excesso de atrativos e parques, para ele, é Gramado (RS). E haverá um processo natural de seleção. Nos demais destinos, ele garante que há oportunidades, pois a clusterização é tendência e a fórmula para se criarem mais destinos de sucesso no lazer e entretenimento.
“Ainda vejo que Foz pode crescer muito com mais parques e atrativos, no Rio há muito espaço, pois por ser um destino focado na natureza, carece de atrações como as que vemos pelo mundo. O Roxy Dinner Show, por exemplo, recém-aberto, era uma atração que faltava. Há muito espaço ainda, estamos longe da saturação”, analisa o presidente do Sindepat. Mas e os grandes parques temáticos? Por que, à exceção do Beto Carrero World, ainda não vingaram no Brasil?
Pablo Morbis garante que esse momento vai chegar, apesar dos altos valores necessários de investimento. Ele cita os projetos de Roberto Medina e Alê Costa, e os novos produtos dos Smurfs e do Sítio do Pica Pau Amarelo em São Paulo para mostrar que há ousadia e coragem por parte dos investidores, e que os grandes parques estão a caminho. “É um segmento que começou com empresas familiares, e que seguem sendo familiares, e que vem amadurecendo muito rapidamente. E logo chegaremos nesse segmento de grandes parques. Acho que o Alê (Costa) vai dar esse start.”
Voltando ao Sindepat...
Além da continuidade da gestão de Murilo Pascoal, incluindo o diálogo e a união do setor e do Turismo, Pablo Morbis promete:
- construir mais pontes do setor de parques com o poder público e demais entidades;
- fortalecer os novos comitês do Sindepat, como o de Parques Naturais, que tem chancela do Instituto Semeia, e o de Sustentabilidade;
- criar o comitê de Zoológicos e Aquários;
- criar um Fórum de CEOs, cuja primeira reunião será no começo de 2025;
- trazer parcerias de outros setores;
- realiza o Summit de 2025 já com boa parte dessas novidades, em maio, em local ainda secreto até o fechamento desta edição.
O conteúdo acima é parte integrante da Revista PANROTAS Especial 50 anos, que você pode conferir na íntegra abaixo: