Pirenópolis e os sabores do cerrado; conheça esse charme brasileiro
A 120 quilômetros de Goiânia, cidade é um preservado centro histórico colonial
A 120 quilômetros de Goiânia e 150 quilômetros de Brasília, Pirenópolis é um daqueles destinos onde se pode fazer um pouco de tudo – ou de nada. Com um preservado centro histórico colonial, a cidade do interior de Goiás segue um ritmo de vida calmo, que convida a desacelerar, desconectar e aproveitar o melhor do dolce far niente. Sem semáforos, sem edifícios e protegida pela Serra dos Pireneus, Pirenópolis é o destino certo para colocar em prática o ócio criativo. Ou não.
Se você gosta de explorar ao máximo o que um destino tem a oferecer, já te aviso que precisará de muitos, muitos dias em Pirenópolis. No meu caso, foram cinco dias para, ao final, ter a certeza de que precisaria de mais... A cada restaurante visitado, um novo endereço entra na lista. O mesmo acontece depois de conhecer uma cachoeira ou fazer uma trilha. E as opções de hospedagem em Piri, como é carinhosamente chamada, também convidam a muitos retornos.
No pós-pandemia, o destino se beneficiou dos atrativos naturais e atraiu visitantes em busca de espaços ao ar livre e contato com a natureza. No ano passado, marcado pelo boom do Turismo doméstico, a cidade de 25 mil habitantes recebeu mais de um milhão de visitantes. A proximidade com Brasília e Goiânia também atrai visitantes do “anywhere office”, que descansam nos finais de semana e prolongam a estada, trabalhando dos hotéis, pousadas e das muitas casas de temporada disponíveis. Com fartas opções, Piri consolida-se como destino para públicos diversos e, em algumas datas, vê sua calmaria desaparecer com a chegada de milhares de visitantes.
Para minha sorte, experimentei somente a “calmaria” por lá, disputando a mesa do café da manhã apenas com os papagaios, já que queríamos a sombra da mesma goiabeira, na Pousada das Cavalhadas. Eu cedi. A seguir, um pouco do que fazer em Pirenópolis.
Hotelaria
Em estilo colonial e com o privilegiado endereço de estar em frente da Igreja Matriz, a Pousada das Cavalhadas foi aberta em 1986, mas já funcionava como hospedaria desde os anos de 1940. Conta com 18 quartos e a suíte colonial, novidade criada há cerca de dois anos, quando a pousada adquiriu o casarão vizinho, do século 18. Hoje, esse casarão é o endereço do café da manhã, de duas suítes e do Bristrô Cavalhadas. Na área em que é servido o café, as árvores frutíferas são um convite aos papagaios, maritacas e pássaros que têm prioridade na escolha das “mesas”.
Para quem quer caminhar para os principais atrativos de Pirenópolis – com exceção das cachoeiras – há uma série de pousadas no centro histórico, com preços variados. Uma das mais sofisticadas é o Casarão Villa do Império, que integra a associação Roteiros de Charme. Trata-se do primeiro hotel boutique de Goiás, com 19 suítes instaladas em um casarão do século 18.
A três quilômetros do centro, a Pousada Cavaleiro dos Pireneus é uma opção que une requinte e simplicidade, com spa próprio. Entre as novidades, a Quinta de Santa Bárbara fica na região central, enquanto a Villa do Comendador está fora de Pirenópolis, no Km 25 da GO 431.
No estilo resort, há ainda a Pousada do Pireneus, com programação e atrações para crianças. A Secretaria de Turismo de Pirenópolis tem um serviço por WhatsApp para informar sobre a disponibilidade de leitos na cidade. O número é (62) 3331-2633
Gastronomia
Os sabores do Cerrado marcam a gastronomia goiana, para muito além do pequi. Mas não provar o arroz de pequi é quase uma afronta para os goianos. Em Piri, a diversidade gastronômica impera e há excelentes opções de carnes, massas, risotos e a melhor fondue do Brasil. Sim, a fondue da chef Clara Gaehwiler, filha de goiana e suíço, foi eleito neste ano o melhor do Brasil em concurso do Turismo da Suíça aqui. Ela comanda o restaurante Ursus House e promete colocar a fondue no cardápio a partir de 7 de outubro próximo, quando é comemorado o aniversário da cidade.
Na Rua do Lazer, uma ladeira exclusiva para pedestres no centro histórico, uma das boas opções é o Empório do Cerrado, com excelentes carnes e risotos à base dos temperos e frutos do cerrado. Outra opção próxima que surpreende com sabores inusitados é o Bar des Artes, na rua do Bonfim. As carnes são acompanhadas por molhos como o de amora ou de morangos picantes. À noite, o restaurante oferece pizzas e massas, com destaque para o nhoque da casa. Se o tempo estiver agradável, a dica é escolher uma mesa no quintal.
O brunch da Fazenda Vagafogo é uma experiência gastronômica e cultural. Instalado em uma Reserva Particular do Patrimônio Natural, o Santuário de Vida Silvestre Vagafogo tem cachoeira, trilhas, arvorismo e outras atrações, mas é o brunch que enche os olhos dos visitantes. Oferecido em três horários (9h; 11h e 13h), o brunch é um festival gastronômico elaborado a partir de frutas do cerrado, com pães e produtos feitos artesanalmente. Entre as opções há chutney de manga, geleias variadas e pesto com baru.
Vinhos e cervejas
As cervejarias artesanais, sucesso Brasil afora, também ganham espaço em Pirenópolis. Hoje são quatro fabricantes locais, entre elas a Santa Dica, na rua Aurora, no centro histórico, e a Cervejaria Casarão, na saída para importantes cachoeiras como a do Abade e Avalon. É da Casarão a primeira plantação de lúpulo de Goiás. São mais de dez tipos de cervejas e chopes artesanais e a possibilidade de visita guiada à fábrica – que é também a loja e o bar. Na Santa Dica, são oito rótulos e a dica é partir para a régua de degustação, assim fica mais fácil escolher entre os diferentes sabores oferecidos
Mas Pirenópolis produz também vinhos! A pioneira é a Vinícola Assunção, que em 2015 plantou oito mil pés de plantas e em 2017 teve a primeira produção, lançando o suco de uva Serra dos Pireneus, atualmente com produção de 40 mil garrafas/ano. Os vinhos começaram a ser produzidos em 2020 e hoje são dez mil garrafas anualmente. No ano passado, a Vinícola Assunção abriu também seu restaurante, junto ao parreiral, abrindo para almoço. À noite, o local realiza eventos sociais e corporativosbrindo para almoço. À noite, o local realiza eventos sociais e corporativosa.
Cachoeiras
Elas são a estrela do ecoturismo em Pirenópolis. Há mais de 80 cachoeiras no entorno da cidade, especialmente na rota da Águas Cristalinas e na Serra dos Pireneus. Em direção à serra, uma das mais próximas fica no Refúgio Avalon, com trilha ecológica e acessibilidade até a cachoeira, pequena, mas com poço profundo para banho. Na mesma direção, fica o Refúgio Ecológico Vargem Grande, que reúne três importantes cachoeiras: do Lázaro, Véu de Noiva e Santa Maria, essa última acessada em trilha de apenas 500 metros. O ingresso para visitar as três custa R$ 60 e a infraestrutura inclui banheiros e lanchonetes.
Uma das melhores infraestruturas, no entanto, está na Cachoeira do Abade. Há duas opções de trilha, uma mais longa, de 2,5 quilômetros, e outra de 500 metros para chegar diretamente à Cachoeira do Abade e seus 22 metros de queda. Pela mais longa, é possível parar em outras duas cachoeiras, com poços para banho. Vale a pena fazer a trilha longa, com calçamento e pontes pênsil. O destaque é a segunda cachoeira, do Sossego. Na nossa visita, fomos surpreendidos por dezenas de macacos prego que desciam pelos troncos e galhos das árvores, sem se aproximar da água. A ponte que une as duas trilhas é uma linda ponte pênsil, com 50 metros de comprimento e cerca de 24 metros de altitude, passando sobre as corredeiras do rio das Almas. De tirar o fôlego! O ambiente conta com restaurante, aberto somente até as 14h30 e o Flora Café, aberto durante todo o período de funcionamento da cachoeira. O ingresso é de R$ 55.
No circuito das águas cristalinas, a Cachoeira das Araras é a opção ideal para quem tem mobilidade reduzida ou crianças pequenas. O estacionamento é a poucos metros da cachoeira e estrutura com mesas, cadeiras e lanchonete foi instalado junto à cachoeira, de sete metros. O poço é cristalino e com partes rasas e mais profundas. Custa R$ 40.
História e cultura
Tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Pirenópolis data de 1727, quando um grupo de garimpeiros chegou à região em busca de jazidas de ouro. A cidade começou a se desenvolver ao redor da Igreja Matriz – reconstruída após o incêndio de 2002, considerado um dos dias mais trágicos de Pirenópolis – e, posteriormente, junto às igrejas do Bonfim e do Carmo. Na segunda metade do século 18, a exploração do ouro entra em crise e a economia da cidade se volta para a agricultura, pecuária e comércio.
Boa parte dessa história está registrada na Fazenda Babilônia, do final do século 18 e tombada pelo Iphan. Com casarão construindo em estilo colonial que abriga capela, tem diversos muros de pedras erguidas por escravos. Foi engenho de açúcar e produziu mandioca e algodão, exportado para a Inglaterra. Participou do ciclo do café e recebeu a visita do viajante francês August Saint-Hilaire, que deixou importantes registros do local e teria sido o primeiro a chamar a fazenda pelo seu atual nome: Babilônia. É possível visitar a fazenda isoladamente ou incluir na visita a degustação do Café Sertanejo, um resgate dos sabores do período colonial, com receitas centenárias produzidas com a matéria-prima da própria fazenda. Com o café sertanejo, a visita sai R$ 132 e deve ser agendada.
A arquitetura colonial está presente em boa parte do centro histórico de Pirenópolis, que recebe esse nome oficialmente em 1890, em homenagem à Serra do Pireneus, que cerca toda a cidade. A história está registrada em muitas das casas originais de Pirenópolis, cuja arquitetura foi registrando o avançar do tempo, com a presença dos estilos neoclássico e art noveau. As igrejas Matriz e do Bonfim são de especial interesse para quem quiser saber mais sobre o desenvolvimento da cidade, assim como o Museu Lavras do Ouro.
A Igreja do Carmo abriga o Museu de Artes Sacras, enquanto a antiga Casa de Câmara e Cadeia é hoje o Museu do Divino, que conta a história da principal festa da cidade a festa do Divino Espírito Santo e suas cavalhadas. O “mascarado”, símbolo da cidade, é um dos principais elementos da festa e, de rótulos de cervejas a imãs de geladeira, eles estão por todos os lados de Piri.
Por Maria Izabel Reigada, especial para a Revista PANROTAS, que viajou com apoio da Secretaria de Turismo de Pirenópolis
A matéria é parte integrante do Guia de Férias PANROTAS, edição para a Abav Expo 2023. Confira, abaixo, a revista na íntegra: