David Neeleman diz que investir em combustível sustentável é um absurdo; saiba por quê
David Neeleman passou pelo palco da Phocuswright Conference, nessa quinta-feira (21), nos Estados Unidos
PHOENIX - Fundador de cinco empresas aéreas, incluindo a brasileira Azul e a recente Breeze, da qual é CEO atualmente, David Neeleman passou pelo palco da Phocuswright Conference, nessa quinta-feira (21), com o carisma de sempre e opiniões polêmicas.
Uma delas sobre o uso de combustível sustentável na aviação, o SAF. Para ele, investir nessa solução é algo nonsense. E ele explica pelo viés econômico, sem diminuir, pelo contrário, as necessidades de medidas para frear e reverter a mudanças climáticas.
"[O diretor geral da Iata] Willie Walsh (ex-British Airways) disse que se colocarmos SAF em todas as companhias aéreas do mundo, isso aumentará nossos custos em US$ 187 bilhões. Mas as companhias aéreas do mundo lucram US$ 32 bilhões por ano. Para mim, fica muito claro: 'Vocês todos vão perder seus empregos se esse absurdo acontecer'"
David Neeleman
Neeleman também citou os impactos econômicos negativos nas refinarias de diesel que agora fornecem combustível de aviação para as companhias aéreas. Mas ele teria uma solução?
O fundador da JetBlue sugeriu que a indústria aérea ajude outras indústrias a abandonar os destilados de diesel para aumentar o fornecimento para aviões a um custo economicamente mais vantajoso. “Vamos pegar US$ 10 bilhões por ano dos US$ 187 bilhões e ajudar outras indústrias a serem mais eficientes.”
Ele trouxe ainda o impacto na produção de alimentos, já que o SAF inclui produtos e resíduos de base agrícola. “O preço dos alimentos aumentaria e as pessoas morreriam de fome. Em terra faz sentido. Eu dirijo um Tesla, faz sentido pra mim, é mais barato e ainda estou fazendo minha pequena parte pelo meio ambiente", disse.
Nadando contra a maré do consenso atual, David Neeleman afirmou que seus pares na aviação ou são vítimas do efeito manada (pensar como o grupo acredita que deva ser o consenso) ou teme a reação dos movimentos ambientais, hoje mais barulhentos por conta das redes sociais e da exigência de investidores em processos e ações em prol do meio ambiente.
"Eles não podem dizer isso. Eu posso dizer isso", afirmou para a plateia da Phocuswright Conference. Plateia essa que, ao ser questionada pela entrevistadora, Mitra Sorells, da Phocuswright, ainda não tinha voado de Breeze.
Por que tantas aéreas?
“Não começo uma aérea apenas por começar, você sabe que é a melhor forma de perder dinheiro. Então é preciso ter uma razão. Com a JetBlue, era porque o JFK estava disponível; West Jet porque a Canadian Airlines tinha fechado. No Brasil, as pessoas estavam voando para hubs e havia 150 cidades sem voos, muitas que haviam perdido suas ligações aéreas. E agora nos Estados Unidos também. As pessoas do nordeste americano estavam se movimentando para o Meio-Atlântico, para a Flórida, e precisavam voltar. Não era muito fácil se deslocar entre esses centros, então vi uma oportunidade para a Breeze", destacou ele.
Pessoas querem pagar mais por melhores produtos
E em um momento diferente da aviação. Segundo Neeleman, quando fundou a JetBlue, fazia sentido ter um avião com assentos iguais, mais econômico. “Hoje a aviação tem produtos bem melhores e os passageiros querem pagar mais por eles. Por isso temos primeira classe. Por isso temos internet, TV ao vivo. Hoje o serviço das empresas aéreas é muito melhor”, exemplificou.
E como entregar e manter esse serviço premium que as pessoas estão dispostas a pagar?
“Sendo gentis. É a forma mais barata de encantar as pessoas. Com gentileza. E treinamos nossos colaboradores para isso. Cuidamos bem deles. Se eles são gentis, são mais felizes como pessoas. Simples assim. A Delta fala em ser boa, em ser a melhor, em melhorar. Nós em sermos a mais gentil. E oferecemos uma tarifa mais baixa, mas dizemos: olha, por US$ 50 a mais você pode ter wi-fi, bagagem, espaço para as pernas... E as pessoas dizem, ótimo”
E também quer ser a mais pontual, meta dele para a Breeze. Segundo ele, quando uma companhia aérea é pontual, as coisas boas acontecem naturalmente. A operação flui. O atendimento é melhor, pois não tem de lidar com a frustração do cliente em ter seu voo impactado.
“E se oferecemos a primeira classe por mais US$ 100 eles dizem: melhor ainda. Na época da JetBlue eu gostava de ver todos com o mesmo assento, mesma TV ao vivo. Agora as pessoas querem experiências melhores, querem upgrade"
David Neeleman
E isso se reflete em um mau momento para as companhias low cost americanas, que não têm como entregar esse upgrade que as pessoas querem.
Sem call center
Na Breeze, Neeleman conta que não há call center. Tudo é feito por mensagens de texto e as pessoas estão atendendo de suas casas. “Elas podem falar com seis, sete clientes ao mesmo tempo, o que aumenta a eficiência. Mas vimos que algumas pessoas precisam ouvir o atendente e às vezes fazemos isso, ligamos para o cliente para ele se sentir apoiado.”
E a tecnologia, incluindo IA, segundo ele, ajuda nessa comunicação com os clientes. “A máquina aprende com as mesmas perguntas, temos o database e sabemos exatamente quem são os viajantes, então podemos oferecer soluções antecipadas a eles.”
Um conselho final para os empreendedores na plateia?
“Apenas seja extraordinário. Sabe, a maioria das empresas não é extraordinária. E então, você sabe, descubra quais são esses pontos-chaves a serem destacados. Sabe, para mim, o objetivo final desta empresa quando você chega lá é ser o mais expressivo. E ter a menor quantidade significativa de voos cancelados. Para tornar cada ponto de contato impecável. Para ser impecável nessa execução. E se você não pode ser impecável, mude a direção. Você pode seguir esses princípios de apenas ser extraordinário. Descobrir como ser melhor do que qualquer outra pessoa"
David Neeleman
A PANROTAS é media partner da Phocuswright Conference e viaja a convite da Phocuswright, Delta Air Lines e BWH Hotels, com proteção GTA