Artur Luiz Andrade   |   11/06/2024 09:25
Atualizada em 11/06/2024 09:38

CEO da Gol diz que normalidade operacional resgatou confiança dos agentes

Próxima etapa é o anúncio de uma nova equipe comercial, mais próxima do trade

PANROTAS / Artur Luiz Andrade
Celso Ferrer, CEO da Gol
Celso Ferrer, CEO da Gol

O CEO da Gol, Celso Ferrer, em entrevista exclusiva à PANROTAS na sede da Gol, no Aeroporto de Congonhas (SP), disse que a grande preocupação quando a empresa optou por ingressar no Chapter 11 da Justiça americana era com o cliente – o viajante, o colaborador e o agente de viagens. Uma crise de confiança desses três públicos em relação aos movimentos da empresa, que precisou enxugar sua malha, frota e atuação no trade, era uma grande possibilidade. E esse abalo veio exatamente do trade, segundo ele.

No começo houve um impacto na venda pelas agências de viagens, que já vinham de um momento conflituoso com a Gol, por conta da cobrança da taxa de R$ 50 de atendimento (lançada em dezembro de 2023, um mês antes do anúncio do Chapter 11). Somado a isso, houve uma mudança na equipe comercial (com as saídas de Eduardo Bernardes e Renzo Mello, e a concentração da estratégica na VP Carla Fonseca) e a ainda atuações comercialmente agressivas no mercado por parte das concorrentes Latam e Azul, que, vendo o afastamento da Gol (das agências de viagens), apostaram no trade mais que nunca.

Ainda de acordo com Ferrer, a Gol vinha recebendo apoio de alguns players estratégicos do trade no segundo semestre de 2023, quando teve de cancelar muitos voos e tinha problemas urgentes de caixa. A relação podia não estar ótima, mas havia diálogo.

O CEO da Gol revela que agora os índices de venda voltaram à normalidade histórica de 50% nos canais indiretos e 50% nos diretos, o que mostra a recuperação da confiança do setor, devido, principalmente, à finalização da primeira etapa do processo de Chapter 11, que foi garantir a operação da companhia, assegurar aeronaves e condições de continuar com seu dia a dia operacional, para agora, na segunda fase, pensar na parte mais estrutural e financeira da recuperação.

O segundo semestre, segundo ele, deve ser dedicado ao roadshow de propostas para a saída financeira do Chapter 11, que deve ocorrer, se tudo correr como planejado, no começo de 2025.

“Mostrar aos clientes, aos colaboradores e ao trade a normalidade operacional era nosso objetivo ao final dessa primeira fase e conseguimos. Construímos uma malha consistente, voltamos a ser líderes em pontualidade em março e abril e o cliente aos poucos vai perceber essa normalidade, essa operação regular”, afirma.

Celso Ferrer

Dúvidas dos agentes

O cliente final, diz Celso Ferrer, não teve as dúvidas que o agente de viagens (que está mais próximo dos “bastidores” da companhia) teve. O viajante continuou voando Gol, mesmo depois de um 2023 difícil, com muitos cancelamentos de voos, continuou usando o Smiles normalmente (inclusive houve aumento de associados e transações este ano), o NPS melhorou.

“Não houve mudanças no comportamento do cliente final, mas o trade nos preocupou, pois as primeiras reações não foram boas, a concorrência jogou pesado, com a Latam em ataque direto a nossas aeronaves, e houve uma desconfiança por parte dos agentes. Mas hoje queremos dizer que conseguimos completar essa etapa. Garantimos os aviões e a operação, fizemos um trabalho de bastidores para que essa primeira fase terminasse como planejemos.”

Recado dado ao trade quanto à normalidade operacional, falta agora mostrar uma nova equipe comercial, próxima ao setor. Segundo Ferrer, isso será anunciado nos próximos dias, em uma reestruturação total da área, que continua sob o comando de Carla Fonseca. A Gol trará nomes do mercado para essa interlocução com os agentes de viagens, com novos cargos sêniores e um novo momento com o trade.

“Não queríamos que o trade achasse que o Chapter 11 era uma forma de nos afastarmos das agências. Não era esse o objetivo. Tivemos de nos recolher, enxugamos, negociamos, e vamos voltar a ter uma relação próximo com o trade, diria com uma equipe ainda mais forte que antes”, promete Celso Ferrer.

“Vamos oferecer aos agentes de viagens o relacionamento no nível esperado. Outras mudanças virão na companhia e sabemos que falta relacionamento, presença e tempo de resposta. A Carla parou tudo o que estava fazendo para se dedicar a esse momento de reestruturação na parte dedicada ao trade.”

Celso Ferrer

A recuperação da Gol

Gol Linhas Aéreas
737 MAX 8 da Gol
737 MAX 8 da Gol

Como disse Ferrer, os primeiros meses da recuperação judicial da empresa foram para garantir a normalidade operacional, que é comprovada, segundo ele, pela consistência da malha, os índices de pontualidade e regularidade (líderes do mercado em março e abril) e os contratos garantidos com os lessores.

Este ano a Gol receberá 13 aeronaves diretamente da fábrica da Boeing: dois deles já chegaram e mais 11 estão a caminho, inclusive o que será o 50º MAX da frota da empresa.

Outros 12 aviões sairão da frota, que passará este ano de 141 para 142 aeronaves, incluindo as que ainda estão paradas, por conta de manutenção, e os cargueiros.

Atualmente a Gol opera 110 aeronaves de passageiros e até o final do ano elas serão 120. A previsão do plano de 5 anos apresentado há alguns dias pela companhia é de 169 aeronaves em 2029.

“Decidimos não tirar as aeronaves da frota, o que era uma possibilidade dentro do Chapter 11, e mantivemos nossos aviões, em uma parceria com os lessores. Vamos recolocar os aviões parados na frota operacional, o que vai ser bom para todos”, explica Ferrer.

Ficar com as aeronaves também garante flexibilidade caso os novos aviões atrasem, por exemplo.

Aviões diferentes na frota?

Um dos pilares da Gol é sua frota uniforme de Beoing 737, que podem ser usados nas mais diversas rotas, incluindo as internacionais.

Mas segundo Celso Ferrer a Gol nunca estudou tanto a possibilidade de ter aviões diferentes na frota, dada a dificuldade atual do mercado de aeronaves. As 13 unidades que chegarão este ano, por exemplo, estavam previstas para 2023.

“Nessa fase do plano não prevemos aviões diferentes, mas nunca avaliamos tanto essa possibilidade dentro da Gol.”

Saída do Chapter 11

A previsão de Ferrer é que a companhia saia do Chapter 11 no começo de 2025. Os próximos meses serão de avaliação das propostas para essa saída financeira da recuperação. A Corte americana precisará avaliar e aprovar a proposta escolhida, mas no plano divulgado recentemente, a Gol já mostrou a necessidade de US$ 1,5 bilhão em equity e outros US$ 2 bilhões em refinanciamento das dívidas atuais.

“Agora, com o operacional garantido, vem a fase do processo para financiar essa saída. O plano de recuperação deverá estar pronto no quarto trimestre e a previsão é sairmos do Chapter 11 no começo de 2015”, afirmou Ferrer.

Celso Ferrer

De acordo com ele, a Gol não depende de novos financiamentos e de aumento de dívida. “Essa é a beleza do nosso plano”, diz, entusiasmado. “O crescimento está projetado e as condições para isso já estão contempladas.” Em abril, revela Celso, o caixa da companhia já se mostrou melhor que antes do file do Chapter 11, o que mostra um bom caminho de recuperação, em sua avaliação.

O plano da Gol, que envolverá reestruturação societária e os valores citados acima, é, por ora, stand alone, ou seja, a companhia prevê que continua independente como é hoje. Uma fusão ou venda não está contemplada nesse momento, até porque o processo de Chapter 11 impede qualquer negociação neste sentido, neste momento.

O que não impediu a empresa de um acordo comercial com a Azul, anunciado no mês passado, nem a admissão que o Grupo Abra (e não a Gol) tem conversas com a Azul sobre oportunidades de mercado.

PANROTAS / Artur Luiz Andrade
Celso Ferrer, CEO da Gol
Celso Ferrer, CEO da Gol

Acordo com a Azul

Segundo Ferrer, qualquer acordo comercial é possível dentro do Chapter 11, e a aproximação com a Azul foi a mais natural, pois as malhas das duas empresas são complementares. “A Azul nos traz capilaridade, pois tem mais destinos. E a gente oferece os voos de grandes capitais, onde somos fortes. Com a Latam temos 90% de sobreposição da malha. Com a Azul não, o que garante equilíbrio de benefícios no acordo”, explica o CEO da Gol.

É uma forma, portanto, de a Gol reconstruir parte de sua malha enxugada por conta da crise. As vendas para o codeshare Azul/Gol estão mantidas para o final de julho, com a operação ainda não definida, mas possivelmente logo após a alta de julho.

“O recado ao trade e ao cliente final é que, com o acordo com a Azul e o que fizemos nesse semestre, garantindo a normalidade operacional da empresa, estamos oferecendo mais possibilidades a todos. Sim, enxugamos o que tínhamos de enxugar, mas agora voltamos e estamos mais fortes. Vamos desbravar novos destinos e mercados, fazer o que ninguém está fazendo. Estou muito entusiasmado com esse momento”, finaliza Celso Ferrer.

Celso Ferrer

Ontem, a Gol anunciou duas novidades: o início dos voos para a Costa Rica (e Ferrer promete mais novidades no Caribe e América do Sul) e a reformulação do programa VoeBiz.


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