CEO da Azul diz que Azul Viagens já vende R$ 1 bi e promete volta do inter
John Rodgerson fala de temas estratégicos em entrevista exclusiva à PANROTAS
Em participação no evento Capa Latin America, que debateu a aviação na América Latina na semana passada, em Salvador, o CEO da Azul, John Rodgerson, defendeu o Brasil como a terra das oportunidades. Com oferta de assentos hoje 30% superior ao pré-pandemia, a companhia voa para mais de 150 destinos domésticos e credita sua rápida recuperação à flexibilidade da frota, principalmente.
“O Brasil hoje tem a inflação menor que a Europa ou os Estados Unidos e os brasileiros ainda não voam tanto quanto poderiam. Essa é a oportunidade que estamos vislumbrando aqui”, disse o CEO, no palco do evento. “Vejo oportunidades sem fim neste País e acredito que os brasileiros vão consertar o Brasil, não os políticos, por muito que se fale e espere deles.”
Leia a seguir a entrevista de John Rodgerson, da Azul, ao Portal PANROTAS.
PANROTAS – A Azul anunciou a volta do voo Belém-Fort Lauderdale, na Flórida, e o início do voo de Manaus também para Fort-Lauderdale. Há essa demanda na região?
JOHN RODGERSON – Agora estamos conectando muito mais a região do Amazonas. Quando
começamos a voar para 16 destinos dentro da região amazônica e ampliamos o número de destinos ligados a Manaus, como Recife, encontramos essa demanda. Eu brinco que Fort Lauderdale é outra cidade brasileira. Agora você pode voar de Manaus para lá em apenas cinco horas, sendo também uma oportunidade para convidar os estrangeiros para virem ao Brasil, conhecerem a Amazônia, pescar e ver as belezas do ecoturismo.
Em Belém temos um hub no Norte do País, que conecta com Campo Grande e muitos outros destinos, além do próprio mercado de Belém, uma capital grande. Com todo o respeito, o brasileiro acha que o Brasil é São Paulo, Rio e Brasília. Há um mercado em Belém que viaja para os Estados Unidos e, para fazer isso, muitas vezes descia até São Paulo para voltar a subir. Quando você faz isso, o passageiro viaja menos. Se você pode ir em cinco horas, é outra experiência, e é o que a Azul oferece.
PANROTAS – Pensando na recuperação da malha internacional... O que falta e quando ela deve
acontecer?
RODGERSON – Deixa eu explicar primeiro porque o internacional não se recuperou tão rapidamente quanto o doméstico. Em primeiro lugar, havia as restrições. Se um brasileiro vai para os Estados Unidos e precisa fazer testes para entrar, acaba precisando voltar... é um problema. O mesmo caso aconteceria se eu estivesse nos EUA e, na hora de voltar, testasse positivo para covid, precisando ficar mais dez dias. Talvez eu tivesse poupado dinheiro para ir para a Disney, mas não para esses dez dias a mais.
Com a queda das restrições nos últimos dois meses, percebemos um grande aumento na intenção das viagens. Em segundo lugar, estão os custos das viagens internacionais, mais altos. Em um voo mais longo, de dez horas, o combustível pode chegar a 80%, 90% do custo do voo, como consequência da guerra na Ucrânia.
Mas o internacional está voltando. Se você olhar para a malha pré-pandemia, nós tínhamos Lisboa e Porto, Campinas-Fort Lauderdale; Campinas-Orlando; Confins-Fort Lauderdale e Recife-Orlando. O que vamos fazer em seguida? É só olhar essa lista. Eu já tenho dois voos para Lisboa por dia, já tenho dois para Fort Lauderdale hoje, estamos com Orlando. Qual seria o próximo? Precisamos pensar no Porto, em Confins e Recife de novo, que, inclusive, ganharam mais conectividade. Todos gostam de pensar nos destinos mais atraentes, como Nova York, mas eu preciso, neste momento, voltar com os voos que eu tinha em 2019.
PANROTAS – Então a pergunta não seria quais destinos, mas quando? Quando poderemos ter
essa retomada completa?
RODGERSON – Eu acho que a partir do segundo trimestre do ano que vem todos os voos estarão de volta. É nisso que estamos trabalhando.
PANROTAS – Vocês anunciaram 120 voos dedicados da Azul Viagens para Salvador no próximo
verão. Qual é o tamanho hoje da operadora?
RODGERSON – A Azul Viagens fatura mais de R$ 1 bilhão ao ano e vai ter dois mil voos extras na alta temporada. E abrimos novas rotas. Quando o passageiro encontra um voo direto de Campo Grande para Salvador, por exemplo, mudamos o comportamento desse passageiro, porque isso pesa na escolha do destino. Para nós, é uma utilização de nossas aeronaves. Meus competidores voam muito nesse triângulo das principais capitais brasileiras, porque o corporativo é mais de 65% do mercado.
Mas o que acontece aos sábados? A aviação diminui muito. Você opera 900 voos diários e reduz para 400 voos aos sábados. Eu já tenho o ativo, o piloto, o aeroporto, por que não utilizar essa aeronave para o lazer? Eu não preciso tirar o voo do corporativo, porque ele não voa naquele dia. Se você voar para Salvador ou para Porto Seguro em um sábado, você vai ver uma série de aeronaves da Azul, porque isso faz parte da nossa lógica de usar o ativo, o avião, sete dias da semana, e não apenas cinco. Aumentar essa utilização é positivo para a empresa, mas é bom para o setor e é bom para o Brasil.
PANROTAS – Vocês já estão entre as cinco maiores operadoras do Brasil?
RODGERSON – Não, somos mais humildes. Nós estamos tentando fazer algo diferente das outras, com esses voos dedicados para os destinos e vários parceiros vendendo nossos pacotes no País inteiro.
PANROTAS – Vocês fizeram parceria com o Mercado Livre e a Azul Cargo também vem crescendo. Quais os planos para essa área?
RODGERSON – O segmento de cargas é muito importante para nós. Ele representou cerca de R$ 500 milhões em 2019 e vai fazer algo entre R$ 1,3 bilhão, R$ 1,5 bilhão neste ano. Ele triplicou nos últimos anos, principalmente por conta do e-commerce, mas outros clientes também são importantes, como Samsumg, Natura, Fiat... E Fiat não é e-commerce. O fato é que nossa malha está instalada no País inteiro e isso abre oportunidades. Se você tem que entregar algo em Sinop, Alta Floreta ou Sorriso, é a Azul que vai entregar para você.
PANROTAS – Comparando o setor aéreo do Brasil e dos Estados Unidos, com a sua experiência,
quais são os principais desafios por aqui? Como a judicialização do setor impacta seu negócio?
RODGERSON – Eu brinco que cada mala que a Azul perde é um vestido de noiva, sempre prejudicamos um casamento. Somos a empresa aérea mais pontual do mundo e temos de ser. Aqui, se você não é pontual você é punido fortemente. Isso precisa mudar. Quando a culpa é minha, eu aceito. Mas quando o Aeroporto de Santos Dumont fecha, não é minha responsabilidade. Ainda assim, quando o aeroporto fecha eu tenho a obrigação de providenciar alimentação, acesso à internet, telefonema, hotel... As pessoas perguntam onde estão as outras low cost no Brasil, mas a verdade é que se você cancela um voo por algo totalmente fora do seu controle, a responsabilidade é sua. Se um aeroporto fecha por um nevoeiro, não é responsabilidade da Azul, mas a Azul paga a conta. Esses são fatores que impactam no custo da passagem. A questão da bagagem, voltar a se falar em franquia... A insegurança jurídica impacta o negócio... Um dia pode, outro dia não pode...
Quando você pensa em investimento de longo prazo, estou fazendo uma grande aposta no Brasil, se o jogo muda, sou diretamente prejudicado. Precisamos observar o que está acontecendo em outros mercados e comparar com o Brasil. Muitas aéreas estrangeiras foram subsidiadas, receberam dinheiro dos governos locais. Não é justo que concorram diretamente com as empresas brasileiras, que não tiveram esse auxílio. Não tenho medo de concorrer com empresas europeias ou de outros locais, mas as regras devem ser as mesmas.
PANROTAS – Apesar de tudo isso, o Brasil ainda é esse mercado de oportunidades, como você disse em sua participação no Capa Latin America?
RODGERSON – Sim, porque é muito imaturo. Temos 200 milhões de brasileiros, mas quantos deles viajam de fato? Temos em um ano 100 milhões de passageiros, mas cada um que vai, volta, já reduz para 50 milhões. Desses, temos que considerar os que viajam dez vezes na ponte aérea... Acredito que possamos falar em 10 ou 15 milhões de CPFs de fato. Isso nos anima, porque se esse número vira 25 milhões, vamos crescer junto. Por isso estamos aqui.
PANROTAS – Como a Azul vê o mercado de alianças de empresas aéreas?
RODGERSON – Se eu entro em uma Star Alliance, vou fechar portas para outras. Acredito nas parcerias e hoje temos grandes parceiros na United Airlines, na Jet Blue, na Tap... Até as principais companhias aéreas dentro das alianças estão fazendo acordos com empresas fora da aliança, então todos estão de olho no que é melhor em cada cenário.