Filip Calixto   |   10/04/2023 11:16

Recuperação do Galeão é motivo de limitação de capacidade no Santos Dumont

Presidente da Embratur e prefeito do Rio alegam que fluxo no Santos Dumont tira movimentação do Galeão


Divulgação/ Infraero
O Ministério de Porto e Aeroportos quer limitar a 10 milhões de passageiros o fluxo anual do Aeroporto Santos Dumont
O Ministério de Porto e Aeroportos quer limitar a 10 milhões de passageiros o fluxo anual do Aeroporto Santos Dumont
A ampliação dos voos internacionais para a cidade e a recuperação do aeroporto internacional Tom Jobim, o Galeão, foram os motivos apontados por autoridades para justificar o plano de limitação da capacidade operacional do aeroporto Santos Dumont, também no Rio de Janeiro. Em manifestações similares, tanto o presidente da Embratur, Marcelo Freixo, como o prefeito da capital fluminense, Eduardo Paes, asseguraram que a medida estudada para o Santos Dumont tem como fundamentação a reabilitação do Galeão, que é fundamental para a chegada de estrangeiros na cidade.

"Temos uma defesa intransigente pelo Galeão, que a principal porta do Rio de Janeiro para o Turismo internacional", afirmou o prefeito do Rio em vídeo divulgado em suas redes sociais. Na declaração, Paes argumenta ainda que quanto mais voos domésticos os Santos Dumont recebe, menos movimento o Galeão tem, e por isso é necessário equilibrar o fluxo.

"Historicamente o Rio já perdeu uma série de coisas e se a gente deixa de ter um aeroporto internacional com conexões internacionais essa nossa vocação de cidade global e de capital do Turismo do Brasil também deixa de existir. Se sobrecarregarmos a cidade de voos domésticos vamos perder os internacionais. Não podemos permitir que o Galeão seja destruído", completou Paes.
Redes Sociais/Marcelo Freixo
Com o mesmo tom, o presidente da Embratur afirmou que é muito importante recuperar a malha aérea para o Galeão e reforçou que não há polêmica ou preferência de um aeroporto sobre o outro. "O Rio precisa de voos internacionais e recuperar o Galeão é recuperar a conexão com o mundo. Isso ajuda não somente o Rio de Janeiro mas todo o País", sublinha.

10 OU 15 MILHÕES?
Mais que a relação com a recuperação do Galeão, a decisão de limitar o fluxo de passageiros no Santos Dumont tem a ver também com um fluxo crescente no terminal e com a adoção de alguns parâmetros contestados de passageiros.

Em 2022, o terminal localizado no centro do Rio de Janeiro recebeu mais de 10 milhões de passageiros. Para este ano, segundo comentou o prefeito carioca, a decisão inicial era tolerar um aumento para 15 milhões, o que foi revertido na última sexta-feira (8).

"A discussão era para diminuir a quantidade de voos a partir dos números de 2022, ou seja, menos de 9,9 milhões de passageiros. Aí essa semana aumentam para mais de 15 milhões e agora dizem que vão abaixar para 10 milhões", escreveu o prefeito. "Aqui no Rio tem uma expressão que chamamos de 'bode na sala'. Não sei se vale para todo o Brasil. É mais ou menos assim: colocaram o bode na sala - aumentando o número essa semana - e agora tiram o bode - voltando ao absurdo número anterior - como se fosse uma solução. Francamente! O Rio exige respeito ao principal aeroporto internacional do País. Não vamos ficar quietos assistindo a essa covardia. E eu duvido que o presidente Lula vá compactuar com isso até pq isso é coisa de quem não respeita o Rio. Isso valia no governo anterior. Certamente não nesse", ponderou Paes.

Divulgação/SAC
Recuperar o fluxo de voos, sobretudo internacionais, no Galeão é o objetivo da prefeitura do Rio e da Embratur
Recuperar o fluxo de voos, sobretudo internacionais, no Galeão é o objetivo da prefeitura do Rio e da Embratur
As decisões de aumento e depois diminuição do fluxo de passageiros nos aeroportos do Rio são atribuídas ao ministro de Portos e Aeroportos, Márcio França. O ministro também demostrou preocupação com o a manutenção de voos no Galeão e avisou que terá uma reunião com governador e prefeito do Rio no próximo dia 24 para deliberar sobre o tema. "Reafirmo que qualquer decisão sobre o aeroporto será comunicada diretamente ao governador e ao prefeito. Não travaremos um debate complexo e importantíssimo como esse por meio de 'interlocutores' ou via redes sociais. O Brasil voltou e o Galeão vai voltar também", escreveu o ministro.

A QUESTÃO GALEÃO
Em sua sequência de publicações, o prefeito carioca elencou razões que tornam a recuperação do Galeão fundamental para o Turismo na região. Paes escreveu:

"Em 2022, cerca de 550 mil passageiros internacionais com destino Rio tiveram que fazer conexão em São Paulo para chegar ao Rio;

Hoje o Rio tem voo direto para somente 27 destinos domésticos. São Paulo tem 57, Brasília 40, Belo Horizonte 39, Recife 30;

Em função deste baixo número de destinos domésticos, hoje cerca de 5 mil passageiros/dia têm que fazer pelo menos uma conexão para chegar ao destino final. Este o maior número entre as 10 principais cidades brasileiras.

O Galeão não tem mais conexão com o Porto Alegre, Florianópolis e Curitiba, mercados importantíssimos para alimentar os voos intercontinentais do Rio de Janeiro. Sem esses passageiros, um voo da Lufthansa (Rio-Munich) não consegue voltar para diário, uma American Airlines não consegue manter o voo JFK pelo ano inteiro. Só alta estação…".

Agência Brasil/Tomaz Silva
Eduardo Paes, prefeito do Rio explicou a ideia de limitar o números de passageiros no Aeroporto Santos Dumont
Eduardo Paes, prefeito do Rio explicou a ideia de limitar o números de passageiros no Aeroporto Santos Dumont
Nas manifestações de Paes sobre o assunto muitas repostas cobram do governo carioca um plano para melhorar o acesso ao terminal, que fica na Ilha do Governador. Sobre esse aspecto o governante respondeu que "o galeão é o melhor aeroporto do Brasil e se comparado com os outros pelo País fica muito perto e com acesso fácil à região turística e de negócios da cidade. Já viram a pedreira que é chegar em Guarulhos ou Confins? Também acho o Santos Dumont um charme e de fácil acesso. Só tem um problema: não é um aeroporto internacional. E uma cidade como a nossa não pode prescindir de um aeroporto internacional com várias conexões internacionais. Já fizeram um monte de maldades contra o Rio. Não podemos permitir mais essa. Essa é uma disputa crucial para o Rio", respondeu.

Faltaram as autoridades responderem a algumas questões apontadas pelos críticos ao Galeão:

1 - O acesso ao aeroporto irá melhorar? Incluindo a questão de segurança na Linhas Vermelha?
2 - A mobilidade também exige taxistas e motoristas de Uber mais bem preparados e receptivos aos visitantes e não escolhendo corridas e cobrando mais caro.
3 - A economia do Rio sustentaria a quantidade de voos internacionais de outrora? Ou as empresas aéreas não migraram para São Paulo por uma questão de demanda?
4 - Por que nenhuma companhia escolheu o RioGaleão como hub, como o fazia a finada Avianca Brasil? Custos? Burocracia?
5 - As companhias aéreas operam no Santos Dumont porque há demanda e preferência pelo aeroporto. Como relançar o Galeão sem prejudicar o passageiro?
6 - A concessão do Santos Dumont, mesmo com a limitação, aumentaria a concorrência com o RioGaleão. O modelo atual de concessão de GIG, com a Infraero ainda sócia, foi um fator que atrapalhou o desenvolvimento do terminal ou a crise econômica e pandêmica falou mais alto?
7 - A Embratur e o prefeito falam em turistas internacionais prejudicados. Mas a volta do visto para americanos, canadenses, japoneses e australianos não é um entrave maior que uma escala em São Paulo?
8 - Qual o plano de concessão para GIG e SDU e qual a estratégia do governo para desenvolvimento da aviação e a concorrência entre empresas e aeroportos no País, a exemplo de outros mercados, como os Estados Unidos?

O debate, como se vê, é mais amplo do que simplesmente defender um ou outro aeroporto. Se os passageiros não quiserem pegar voos no Galeão e se não houver demanda suficiente, as aéreas não migrarão de livre e espontânea vontade. O estabelecimento de um hub, como o da antiga Avianca Brasil, é uma condição fundamental para a volta de importância do RioGaleão.


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