O que esperar do Centro de SP como Distrito Turístico? Secretário responde

Celso Silva/Setur-SP

Durante as comemorações do aniversário de 470 anos da cidade de São Paulo, o Governo do Estado, em conjunto com a secretaria estadual de Turismo e Viagens e outras secretarias, transformou o centro de SP no primeiro Distrito Turístico Urbano do Estado.

Com um potencial turístico abundante, o centro de São Paulo sofre com a falta de segurança, abandono de prédios históricos e a escalada da violência. Nesta semana, um comércio na Rua Santa Efigênia - conhecido polo de produtos eletrônicos - teve um prejuízo de R$ 300 mil após um saque promovido por usuários de drogas.

Mas como a criação do Distrito Turístico Urbano do Centro de SP poderá beneficiar moradores e visitantes da capital? Ao 100X BRASIL, Roberto de Lucena, secretário de Turismo e Viagens de São Paulo, explicou algumas das políticas públicas que beneficiarão a região.

100X BRASIL - Quais as ações exclusivas da Setur-SP para contribuir com o novo Distrito Turístico?

Roberto de Lucena - O princípio fundamental do Distrito é o compartilhamento, a soma de esforços sobre o mesmo território, de Estado, município, sociedade e setor privado. As ações começam após a formação de um comitê gestor. Teremos ações simultâneas na Segurança Pública, na Qualidade Urbana, nos Incentivos e Crédito, no Marketing. Muitas dessas já estão sendo implantadas pelo setor privado, com novos negócios surgindo, pela Prefeitura e pelo Estado. O Distrito irá acelerá-las e concentrá-las mais.

100X BRASIL - Existe alguma previsão de aumento da atividade turística com a criação do Distrito Turístico?

Lucena - Sem dúvidas. Esta é uma das consequências da requalificação da área central de São Paulo. É um potencial latente com altíssimo potencial de dar resposta positiva. Com comércios revigorados, novos corredores turísticos, ruas temáticas e, especialmente, segurança reforçada, o Centro de São Paulo receberá mais hotéis, restaurantes, comércio e entretenimento, atraindo mais turistas. É um processo gradual e progressivo de ganho de qualidade na experiência e compartilhamento dessa percepção.

100X BRASIL - Além dos incentivos fiscais para os meios de hospedagem, que outras ações estão sendo pensadas para os hotéis abandonados do centro? Possíveis reformas ou revitalizações só partirão da iniciativa privada?

Lucena - As ações para incentivar novos investimentos, como retrofits, linhas de crédito e legislações como a do Triângulo e Quadrilátero poderão ser expandidas com outras ações de incentivo. Pensamos, sim, em criar soluções para incentivar e promover os hotéis do Centro. Mas isso será construído no âmbito do Conselho do Distrito e em consonância e engajamento dos próprios hoteleiros. Ainda temos muitos hotéis no Centro que poderiam passar por um “retrofit”, assim como outros prédios que têm uma clara vocação hoteleira, seja por sua localidade, seja por característica. Mas é preciso trilhar agora um bom caminho de melhoria de condições do Centro, que estamos buscando, juntamente com outros fatores importantes, como a reabertura do Centro de Convenções do Anhembi, por exemplo, que é tradicionalmente um grande demandante da hotelaria da região central. Isso precisa ser retomado e fortalecido.

Reformas e revitalizações virão da iniciativa privada a partir da percepção de que o movimento de requalificação do Centro é irreversível, traz boas perspectivas e alguns incentivos interessantes. Isso é uma das prioridades do Distrito, viabilizar esse caminho juntamente com o incentivo à moradia na Região Central, que ajuda a equilibrar vários outros fatores em termos de demanda do comércio e até mesmo segurança pública.

100X BRASIL - A Setur-SP enxerga algum imóvel abandonado ou sem uso que possa servir como atração turística?

Lucena - O Distrito Turístico partirá sempre de percepções coletivas. Há vários imóveis que estão sendo revocacionados para essa nova realidade do Turismo no Centro de São Paulo, que acontecerá neste e nos próximos anos. Um desses é o conjunto de prédios da quadra 27, o conjunto Hotel Esplanada- Cine Marrocos- ex-Kalunga. Ali existe, por exemplo, o claro potencial para termos novamente hotelaria no prédio onde foi o Hotel Esplanada, integrado ao prédio ao lado, e hoje é sede das Secretarias de Agricultura e Turismo, assim como o uso do prédio do Cine Marrocos para uso misto, moradia, hospedagem e entretenimento. Mas essa estratégia está sendo construída de forma integrada com a Secretaria de Projetos Estratégicos, de Habitação e os nossos pares no município. E acreditamos que essa peRspectiva já está se concretizando. O Distrito é uma das estratégias de requalificação, se soma ao PIU Central, à Operação Urbana do município, ao novo Centro Administrativo do Estado e outras ações.

100X BRASIL - A Setur-SP já tem alguma ação pensada em conjunto com a Secretaria de Segurança Pública para diminuir o índice de roubos no centro?

Lucena - As cinco linhas de ação que constam no Plano Básico de Implementação do Distrito relacionadas à segurança são: reforço de segurança no entorno de estações do Metrô, ação conjunta permanente na Praça da Sé e Praça da República, reforço permanente em Segurança Pública no âmbito municipal, reforço permanente em Segurança Pública no âmbito estadual e Circuito integrado de câmeras de segurança no Distrito - instalação e operação de câmeras na região. A Secretaria de Segurança Pública está empenhada, juntamente com a Polícia Militar de São Paulo em um esforço que já está surtindo resultados bastante positivos em relação á melhoria da segurança.

100X BRASIL - Além do crédito e isenção de IPTU para novos empreendimentos, que tipo de vantagens podem ser criadas para os empresários que possuem negócios no centro, sobretudo nas ruas mais próximas ao fluxo da cracolândia?

Lucena - Uma das questões fundamentais será desenvolver incentivos para requalificação e novos negócios nas áreas do Centro que foram mais afetadas por cenas de uso, ou em condições de maior degradação. Novas moradias, novos negócios, comércio, atividades contribuirão para a recuperação gradual dessas áreas que hoje se encontram em maior grau de ociosidade.

100X BRASIL - Como a criação do Distrito Turístico pode melhorar a situação de insegurança presente hoje no centro, na visão da Setur? Há alguma política pública prevista para pessoas em situação de rua?

Lucena - A grande capacidade do Distrito é oferecer mais uma ferramenta de coordenação de ações de organização urbana, limpeza, iluminação, sinalização, incentivos para novos negócios, novos equipamentos de segurança pública como é a companhia da PM que está instalada na rua 24 de Maio e tem oferecido sensação de segurança muito maior àquele local. Vamos trabalhar nas ações coordenadas dentro do Distrito para, em um primeiro momento, melhorar as condições gerais para turismo no corredor central do Distrito; a partir de ordenamento, novos negócios, iluminação, incentivos, requalificação de ruas e maior presença das forças de segurança temos uma combinação que gera sensação de segurança. E a partir das experiências seguras dos turistas, gradativamente, a reputação do Centro para o Turismo vai melhorando. É um trabalho gradativo, mas consistente.

Com a retomada de atividades e investimentos no Centro, os espaços ociosos se reduzirão, aumentarão as oportunidades de inserção e teremos também oportunidades de construir projetos sociais inovadores para a região, juntamente com os já existentes.