Rodrigo Vieira   |   01/09/2022 08:00
Atualizada em 01/09/2022 21:36

Ex-CVC, Luti Guimarães assume hoje como VP da BeFly e analisa novo desafio

Função, concorrências, expectativa, relação com antiga empresa, com Marcelo Cohen, estratégias e mais


PANROTAS / Emerson Souza
Luciano Guimarães, novo vice-presidente de Negócios da BeFly
Luciano Guimarães, novo vice-presidente de Negócios da BeFly

Tem início hoje (1/9) a jornada de Luciano Guimarães na BeFly. Luti será o vice-presidente de Negócios da empresa liderada por Marcelo Cohen e estará à frente de Flytour Consolidadora, Flytour Business Travel, Chanteclair, Flytour Eventos, Conexxe, Queensberry, VaiVoando, Qualitours, Flytour Franchising, Departamento de Produtos e do novo projeto BeFly Travel. São mais de 1,3 mil colaboradores sob sua responsabilidade.

Guimarães está há um ano fora do Turismo, desde que deixou a diretoria B2B da CVC Corp, em agosto de 2021. Nascido e crescido na indústria, o profissional tem seu nome diretamente ligado à RexturAdvance, empresa da qual será principal concorrente a partir de hoje, quando o VP é apresentado oficialmente na primeira Convenção de Vendas da Flytour após aquisição da BeFly.

Em entrevista exclusiva ao Portal PANROTAS, Luciano Guimarães fala sobre o sentimento de ser o principal concorrente da empresa onde foi criado, do amor pelo Turismo, do relacionamento com Marcelo Cohen, dos planos reservados pela BeFly a ele, do que pode mudar em sua gestão, do que pensa sobre uma possível abertura de capital da empresa, entre outros temas.

"É natural que, ao chegar a um lugar novo, surjam novas ideias, mas não chego cheio de razão. Chego de peito e mente abertos para poder aprender e mudar apenas o que julgar necessário, mas nunca da noite para o dia. Todas as grandes mudanças que eu designar serão a quatro, seis, oito mãos", afirma Luciano Guimarães.

PANROTAS / Emerson Souza
Marcelo Cohen, presidente da BeFly, e Luciano Guimarães, vice-presidente da empresa
Marcelo Cohen, presidente da BeFly, e Luciano Guimarães, vice-presidente da empresa


CONFIRA A ENTREVISTA COMPLETA COM LUCIANO GUIMARÃES, NOVO VICE-PRESIDENTE DE NEGÓCIOS DA BEFLY

PORTAL PANROTAS - Um ano longe do Turismo, Luciano.
LUCIANO GUIMARÃES - Pois é, um ano fora do mercado onde nasci, cresci e me desenvolvi. Posso dizer mais do que nunca o quanto é difícil largar o Turismo. Foi a primeira vez que parei para valer desde os meus 15 anos.

PANROTAS - Trabalhando desde cedo. Como foi ficar um ano "parado"?
GUIMARÃES - A convivência familiar foi o maior ganho. Poder estar mais perto dos meus filhos, levá-los e buscá-los na escola, viajar sexta-feira à tarde. Mas também senti o carinho do mercado. Tem muita gente que sai do Turismo e é esquecida logo no dia seguinte. Eu não tive um dia que não recebi ligação de clientes querendo bater papo, de gerente de companhia aérea querendo almoçar. Relações foram criadas nessas décadas e foi um período de nutrir o lado pessoal, afetivo, desses relacionamentos. Foi um aprendizado gigante como ser humano. Criei laços ainda mais fortes, pois ali eu não representava mais um CNPJ, eu era o Luti.

PANROTAS / Emerson Souza
Luciano Guimarães, o Luti
Luciano Guimarães, o Luti
PANROTAS - E sair da RexturAdvance, da CVC Corp?
GUIMARÃES - Para mim foi importante esse desmame. Tive uma relação muito forte, a minha vida inteira, com a marca, com o nome, com a holding. Me afastar foi importante. Creio que vai levar um tempo ainda para me acostumar com as mudanças. É como aquela pessoa que vive há muito tempo em um imóvel e quando se muda, às vezes se pega voltando do trabalho pelas ruas antigas. Isso porque a concorrência entre o negócio de minha família e a Flytour sempre foi forte. Leal, respeitosa, mas intensa.

PANROTAS - Como seu pai [Goiaci Guimarães, fundador da Rextur, um dos nomes mais importantes da consolidação e do Turismo brasileiro] recebeu a notícia?
GUIMARÃES - "Flytour???" foi a sua reação [risos]. Para ele, a relação sempre foi de concorrência, ainda que tenha havido uma parceria pontual na década de 1990. Mas realmente, a primeira resposta foi "O Elói, filho? Como vai ser o dia a dia com o Elói?" [risos]. Quando expliquei o projeto, ele ficou muito feliz.

O Marcelo [Cohen] não costuma tirar as lideranças das empresas adquiridas do conselho. O Elói ficou, o Ilya Hirsch ficou. Quem conhece meu pai sabe que isso é importante, e esse ensinamento foi transmitido por ele a mim. Quando fui apresentado ao projeto, vi que há uma história interessante por trás disso e senti no Marcelo a valorização que ele dá ao ser humano.

PANROTAS - Mas esse não foi o único projeto que o senhor ouviu.
GUIMARÃES - Naturalmente não. Outros concorrentes me chamaram. Durante os almoços que mencionei anteriormente, ouvi propostas, muita gente me procurou, mas o plano da BeFly, essa ousadia no novo modelo de ecossistema, trazendo vários negócios complementares para o mesmo ambiente, eu julguei como o mais legal do mercado e o que mais faria sentido para mim, que gosto de desafios.

PANROTAS - Vice-presidente de Negócios. O que está por trás desse cargo?
GUIMARÃES - Vou administrar Flytour Consolidadora, a TMC Flytour Business Travel, a consolidadora baseada nos Estados Unidos Chanteclair, a Flytour Eventos, a empresa especializada em viagens customizadas Conexxe, a operadora de luxo Queensberry, a rede de agências populares VaiVoando, a representante de cruzeiros Qualitours, a Flytour Franchising, o departamento de Produtos e o novo projeto, que está saindo, a BeFly Travel, de lojas B2C.

PANROTAS - Dessas, qual é a que mais tira você da zona de conforto?
GUIMARÃES - A Flytour Business Travel, pelo relacionamento internacional com a American Express. Essa agência de viagens corporativas é a maior representante da Amex fora dos Estados Unidos. É um negócio muito grande, com contas importantíssimas e uma estrutura de governança única. Estamos falando da maior TMC do Brasil. É uma responsabilidade pelo tamanho do negócio, mas também não é um bicho de sete cabeças.

PANROTAS - E o que o faz acreditar que vai dar certo?
GUIMARÃES - Meu modelo de trabalho sempre foi de estar próximo das pessoas, ouvi-las conhecer os negócios, as nuances, os detalhes, as histórias. E eu sei que vou trabalhar com diretores com anos de experiência. Ainda que na BeFly sejam mais de 1,3 mil pessoas sob meu guarda-chuva, tenho total apoio do Marcelo para fazer a gestão do jeito que sempre fiz, próximo das pessoas, tomando decisão junto, em espírito de equipe.

Reifer Souza (Produtos), Flávio Marques (Consolidação), Edu Murad (Eventos), Marco Lourenço (Queensberry), Flávia Possani (Marketing), Ilya Hirsch (Qualitours) para citar alguns diretores, são pessoas por quem tenho muito respeito, gente que conhece de Turismo.

PANROTAS - E onde se sente "jogando em casa"?
GUIMARÃES - Em todas onde a essência é o atendimento ao agente de viagens. Acima de qualquer tipo de produto, o Turismo B2B é sobre relacionamento. Durante minha carreira, já atendi muitos clientes de eventos, de luxo, lazer, corporativo, então para mim não é um negócio estranho liderar uma Queensberry, uma Qualitours e tampouco a Flytour Consolidadora, que é o negócio de maior receita da BeFly.

PANROTAS - O que você chega a fim de mudar?
GUIMARÃES - Mudanças podem acontecer e são saudáveis, mas em princípio não vou chegar com grandes transformações. Preciso entender, conversar com as pessoas. Nunca tomei decisões sozinho, sempre que acerto ou erro é após discutir com o grupo. Não deve existir na companhia uma preocupação com mudança. Pode ser que elas ocorram, mas nunca será da noite para o dia.

Talvez a Flytour Business Travel seja a área mais plausível de mudanças, pois a Flytour sempre foi conservadora em relação à TMC.

PANROTAS - E em relação a possíveis fusões e maiores reestruturações dentro do ecossistema?
GUIMARÃES - Pode ser que haja fusão entre unidades. Se for necessário, sim. Eu posso falar melhor sobre isso daqui a alguns meses.

PANROTAS - Fala-se na possibilidade de a BeFly estar se inflando, adquirindo tantas empresas no setor, para no futuro realizar um IPO. Procede?
GUIMARÃES - O plano que tenho combinado com Marcelo [Cohen] não é de engordar a empresa para o IPO. Estamos cientes de que isso vem sendo falado no mercado, mas o plano é fazer da BeFly o melhor ecossistema do Brasil. Pode parecer piegas, mas é nisso que vamos dormir pensando e acordamos pensando. Nossa ambição é ter uma empresa grande, saudável, rentável, prestando um bom serviço ao cliente. Não estamos pensando no IPO. Não digo que nunca vai acontecer, mas as estratégias no momento não são baseadas nisso.

PANROTAS - Por falar no Marcelo Cohen, como é seu relacionamento com ele?
GUIMARÃES -
No passado, a Belvitur foi cliente da RexturAdvance, mas nunca fomos tão próximos. Em 2018, viajamos juntos profissionalmente e tivemos uma conversa interessante. Nos identificamos porque temos histórias parecidas, de empresas familiares fundadas por nossos pais. Sempre quis deixar de ser conhecido como filho do Goiaci para que ele se tornasse pai do Luciano. Sinto algo similar do Marcelo com o sr. David.

Acima de tudo, nosso diálogo tem sido formidável. O Marcelo é muito focado em pessoas e negócios. Tem uma cabeça que eu não conhecia e vou passar a conhecer ainda mais do interessante modelo com o qual ele pensa o Turismo. Inovação, cuidado de pessoas, aquisição de empresas chave... essa mentalidade dele para mim é muito boa, por isso comprei a ideia. Também gostei da confiança e da autonomia que ele dá ao meu trabalho.

PANROTAS / Emerson Souza
Luciano Guimarães atua no Turismo desde os 15 anos
Luciano Guimarães atua no Turismo desde os 15 anos

PANROTAS - O Marcelo e você vislumbram internacionalização da BeFly?
GUIMARÃES - Se houver oportunidades, sim, mas não tem nada no gatilho. Ninguém no mundo faz o modelo de venda em Turismo como é feito no Brasil. É de uma complexidade e evolução enormes. Ainda assim, a Chanteclair talvez seja uma das primeiras expansões internacionais no Brasil, há 20 anos aberta nos Estados Unidos, e fortalecer sua presença lá pode ser importante.

PANROTAS - Em comparação com a distância que era o ABC Paulista, como é estar de volta ao "centro" de São Paulo? Aliás, seu trabalho será presencial?
GUIMARÃES - Todas as empresas da BeFly trabalham 100% presencial, exceto onde não temos base. Sobre trabalhar próximo à avenida Paulista, estou muito feliz. Adoro sair de casa e almoçar com pessoas diferentes, conviver, conversar. É a grande beleza do presencial. Sempre fui um diretor de portas abertas, sempre gostei de transitar entre os andares, interagir. Voltar a circular me anima muito, conhecer gente nova, gente que não tem meu WhatsApp. Estou muito feliz.


PANROTAS - Como vê o trabalho que vem sendo feito em marketing na BeFly?
GUIMARÃES - É a empresa com o marketing mais ativo do Turismo. Tem muita coisa acontecendo. A companhia fez um rebranding de quase todas as suas unidades de negócios. Marcas mudaram, se modernizaram. A própria marca da BeFly como holding é muito interessante. Eu diria que a empresa tem um marketing perfeito. Tive a oportunidade de conhecer a diretora da área, Flávia Possani, que tem grande experiência no mercado e sabe o que está fazendo.

PANROTAS - Como você enxerga o apetite de grandes OTAs no mercado brasileiro. Você concorre com elas?
GUIMARÃES - Não concorrerei diretamente com as agências de viagens on-line. Elas concorrem mesmo é com a venda direta das companhias aéreas, não com as agências físicas. As OTAs praticam uma briga entre plataformas e ganha a que der a melhor experiência, visto que as tarifas também são parelhas. Diziam lá atrás que as OTAs acabariam com as agências físicas, o que não aconteceu. Cliente que compra on-line, se divide entre OTAs e venda direta dos fornecedores.

PANROTAS - E como enxerga a competição no Turismo brasileiro, agora em nova casa?
GUIMARÃES - Concorrência sempre foi saudável e o é em qualquer mercado. Concorrer com a empresa onde nasci tende a ser natural. Sempre me dei bem com todos os meus concorrentes, tanto que de vários convites que recebi nesse hiato, grande parte foi de concorrente. De minha parte, tenho pouquíssimos inimigos no Turismo. A não ser que tenha gente que me veja como inimigo e eu não saiba. No fim das contas, ganha quem entrega o melhor serviço, a melhor tecnologia, o melhor atendimento. Competir com minha antiga empresa há de ser saudável e estimulante, afinal seria estranho falar mal de empresa com quem trabalhei por 25 anos.

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